Kilmartin Glen: O Tesouro Arqueológico da Escócia que Precede Stonehenge

Quando se fala em tesouro arqueológico no Reino Unido, Stonehenge é a primeira coisa que vem à mente. Mas, antes das pedras gigantes serem erguidas na Inglaterra, Kilmartin Glen, na Escócia, já abrigava círculos rochosos, cemitérios e paisagens que exigem respeito dos visitantes.

Pesquisadores da Universidade de Bournemouth estimaram em 2008 que Stonehenge foi erguido por volta de 2.300 a.C. Já os arqueólogos acreditam que as construções escocesas datam de 2.700 a.C., ou seja, antes das civilizações gregas e romanas e até mesmo das pirâmides do Egito.

As paisagens de Kilmartin Glen foram admiradas pelos reis do antigo reino gaélico de Dál Riata durante os séculos 6 e 7. No entanto, o propósito dos vales e campos verdes, com ovelhas e outros animais circulando entre rochas, sepulturas e monumentos do Neolítico e da Idade do Bronze, permanece incerto.

Autoridades de turismo da Escócia reconhecem mais de 350 monumentos em um raio de cerca de 10 km do centro do vilarejo de Kilmartin Glen. Desses, pelo menos 150 são pré-históricos e dividem espaço com construções gaélicas, como a fortaleza dos escoceses em Dunadd.

Entre as artes catalogadas em Kilmartin estão cerca de 800 relíquias, segundo a BBC. Alguns monumentos ainda são decorados com petróglifos, esculturas rupestres em desenhos circulares cujo significado é um mistério. Assim como Stonehenge, acredita-se que a área tenha sido um local de funerais e rituais religiosos.

Há pelo menos cinco marcos de enterros pré-históricos em Kilmartin Glen, de acordo com a Historic Environment Scotland. Eles formam uma linha de dois quilômetros pelo vale. Em escavações feitas durante os anos 1800 em um deles, o Dunchraigaig, foram encontradas três sepulturas com ossos cremados e corpos inteiros de cerca de 15 pessoas, além de machados e facas de pedra e um amolador.

O achado foi considerado raro, já que a maioria das sepulturas da Idade do Bronze servem apenas para uma pessoa, enquanto no Neolítico era mais comum ter tumbas de múltiplos corpos. O arqueólogo do Kilmartin Museum, Dr. Aaron Watson, acredita que ainda há muito a ser descoberto sobre o modo de vida dos escoceses pré-históricos nos vales de Argyll.

Além das cinco áreas de cemitério — Glebe Cairn, Nether Largie North Cairn, Nether Largie Mid Cairn, Nether Largie South Cairn e Ri Cruin Cairn — onde já foram encontrados colares, potes, cerâmicas e flechas, conhecem-se outras três estruturas com enormes círculos de rochas verticais: Nether Largie, Temple Wood e Ballymeanoch.

Enquanto Temple Wood possui rochas mais baixas, acredita-se que o círculo contasse com 22 pedras verticais de até 1,60 metro e também guarda sepulturas em seu subsolo. Nether Largie e Ballymeanoch podem ter tido outro fim. Diversos especialistas concordam que o posicionamento das rochas nos dois círculos é consistente com o de um observatório lunar para prever eclipses.

Historiadores e arqueólogos não descartam a possibilidade de que a proximidade desses complexos, com monólitos entre três e quatro metros de altura, tenha levado à prática de rituais no local. O museu da região já acumula 22 mil artefatos, incluindo corpos dos moradores do vilarejo enterrados há quatro mil anos, símbolos de reis pré-históricos e ferramentas em quartzo.

“Esta é a arqueologia da experiência sensorial. Você pode ver como a luz muda, ouvir os ecos. Não é só uma porção de pedras. Provavelmente, este é um antigo espaço transdimensional para transformar os vivos em algo além. E nossa tarefa é trazer essas histórias de volta à vida”, comentou o arqueólogo Aaron Watson à BBC. Especialmente as marcas esculpidas nas rochas, para ele, têm significado especial.

“Nossos ancestrais que esculpiram esses símbolos nas pedras tinham um entendimento muito diferente do mundo do que nós temos. Acho que eles selecionaram as rochas que pudessem aproveitar a luz do inverno melhor, mas não se sabe, e essa discussão é frequentemente tão interessante quanto pensar em uma única interpretação”.

Apesar de os criadores de Kilmartin Glen terem saído de cena há milhares de anos, o mundo que eles inspiraram segue vivo — e misterioso em 2024.

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