Setor de Vinhos Francês em Alerta com Ameaça de Tarifas dos EUA

Na quinta-feira (13), os profissionais franceses do setor de vinhos e destilados ficaram em choque após Donald Trump ameaçar aumentar as tarifas sobre esses produtos para 200%. Isso, caso a União Europeia não retire o imposto proposto sobre o whisky americano. Os produtores europeus estão pedindo que Bruxelas tribute outro setor dos EUA, como o de novas tecnologias, porque temem que o mercado se paralise completamente dentro do bloco.

Impacto nas Exportações

Com 200% de tarifas alfandegárias, os negócios param. Isso significaria triplicar o preço por garrafa vendida. Inimaginável para o setor, que estava dividido entre surpresa, consternação e um senso de urgência para encontrar uma solução, disse Nicolas Ozanam, diretor da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas (FEVS).

À rádio Franceinfo, o proprietário da marca de champanhe Veuve Fourny, que exporta para cerca de 30 países, incluindo os Estados Unidos, disse achar difícil de acreditar. É uma ameaça. Eu diria que é um pouco como dizer que não se pode vender champanhe nos Estados Unidos, concluiu Charles Fourny.

Um Erro Tático?

Se o presidente dos EUA confirmar as sobretaxas, isso significará o fechamento do principal mercado de exportação do vinho francês. Isso representa 4 bilhões de euros em faturamento e cerca de 600.000 empregos diretos e indiretos, explica Gabriel Picard, presidente da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas. Ele culpa Donald Trump, mas também a Comissão Europeia, que optou por taxar as bebidas alcoólicas norte-americanas.

Os produtores de vinho nos Estados Unidos são os estados democratas, especialmente a Califórnia. O estado produtor de whisky nos Estados Unidos é Kentucky, com o senador McConnell, adversário de Trump entre os republicanos. Portanto, atacar o whisky ou os vinhos norte-americanos hoje é um grande erro tático, afirma Picard. Ele sugere que Bruxelas reverta sua decisão e tribute outro setor, como o de novas tecnologias.

Empregos em Risco

A notícia é particularmente preocupante para a França, já que o país é responsável por cerca de metade das exportações europeias de bebidas alcoólicas para os Estados Unidos, observou Sylvain Bersinger, economista-chefe da Asterès.

Em 2024, as regiões de Champagne, Cognac e Bordeaux exportaram 3,9 bilhões de euros em bebidas alcoólicas para os Estados Unidos, representando 1/4 das exportações do setor. Vinhos e destilados não devem ser reféns de uma escalada comercial, reagiu David Chatillon, presidente do Comitê de Champanhe, convidando ambas as partes a encontrar uma solução negociada.

Nosso setor gera 70.000 empregos na França e não aceitará ser sacrificado como resultado de decisões políticas europeias que não têm nada a ver com ele, disse o Escritório Nacional Interprofissional do Conhaque (BNIC), para quem o mercado norte-americano é o principal.

Retaliação

Donald Trump ameaçou na quinta-feira impor taxas de importação de 200% sobre vinhos e bebidas alcoólicas da UE se o bloco não retirasse os impostos de 50% anunciados sobre o uísque e o bourbon americanos. Bruxelas anunciou esses impostos na quarta-feira (12) em retaliação às sobretaxas norte-americanas de 25% sobre o aço e o alumínio. Não entendemos o que a Comissão Europeia está fazendo, não faz sentido, disse Ozanam.

Mas não podemos nos deixar vencer por ameaças desse tipo, disse o primeiro-ministro francês, François Bayrou, durante uma visita a Lyon. É importante que nós, europeus, mostremos que não cederemos a ameaças desse tipo, acrescentou, descartando a ideia de abandonar o imposto sobre o bourbon.

Nunca quisemos ver um aumento nas taxas alfandegárias, enfatizou Laurent Saint-Martin, Ministro do Comércio Exterior da França. Não queremos uma guerra comercial, mas a Europa não vai ceder se os Estados Unidos continuarem a ameaçar as exportações europeias, acrescentou, pedindo um diálogo contínuo para convencer os americanos a recuar.

Setor Fragilizado

As taxas norte-americanas sobre o vinho francês são atualmente muito baixas, em torno de 10 centavos de euro por litro, de acordo com o FEVS. As bebidas destiladas estão isentas de impostos desde a assinatura de um acordo transatlântico, em 1997. De acordo com o lobby de bebidas alcoólicas Spirits Europe, esse acordo levou a um boom no comércio até 2018, quando o governo anterior de Trump lançou sua primeira guerra comercial contra o aço e o alumínio.

Desde o outono, a Spirits já vem sofrendo com uma sobretaxa de Pequim, seu outro grande mercado em disputa com a UE, o que levou a uma queda de 25% nas exportações de conhaque e armagnac para a área China/Hong Kong/Cingapura.

Sabíamos que isso iria nos afetar, mas 200%! Os Estados Unidos são nosso segundo maior mercado de exportação em termos de valor e volume, disse Olivier Goujon, diretor do sindicato de produtores do destilado francês armagnac, pedindo ao governo que enfrente a questão.

Vitalie Taittinger, presidente da casa de champanhe de mesmo nome, ressalta que, com 200% de imposto, uma garrafa de champanhe vendida por cerca de sessenta dólares subiria para mais de 180: o preço pode se tornar inacessível para o consumidor, apesar de os Estados Unidos serem o segundo maior mercado de exportação, depois do Reino Unido.

Desde seu retorno à Casa Branca, o presidente dos EUA anunciou uma série de tarifas como forma de exercer pressão sobre países, proteger determinados setores industriais e gerar receita para o governo federal.

(Com AFP)

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