A Simplicidade e a Inclusão na Mesa do Papa Francisco

Jorge Mario Bergoglio, ou Papa Francisco, não seguia os jejuns rigorosos do santo que inspirou seu nome. Mas, assim como São Francisco de Assis, ele evitava excessos e alimentos luxuosos.

Refeições Simples

Desde o início de seu pontificado, Francisco deixou claro que abriria mão dos confortos tradicionais do cargo. Suas refeições eram simples, com ingredientes frescos e sazonais. Ele não frequentava restaurantes sofisticados e muitas vezes comia no refeitório do Vaticano com os trabalhadores. Seu primeiro jantar com o Colégio de Cardeais foi um simples prato de massa, algo que ele apreciava muito. Menos era mais na vida e à mesa do pontífice.

Pequenos Luxos

Seus “luxos” eram discretos: suco de laranja espremido na hora pela manhã e membrillo, a versão argentina da nossa goiabada, feita com marmelo. Francisco não gostava de banquetes e sempre priorizou ingredientes de qualidade. Em linha com a encíclica Laudato si’, os alimentos servidos ao papa eram frescos e cultivados localmente.

Castel Gandolfo

A maioria dos alimentos vinha de Castel Gandolfo, a antiga residência de verão dos papas. São 62 hectares de áreas agrícolas, distribuídos entre hortas, pomares, vinhedos, estufas e currais. Os alimentos produzidos ali são transportados quase diariamente para as cozinhas do Vaticano, especialmente para a Casa Santa Marta, onde o Papa Francisco residiu e fazia suas refeições.

Refeições Leves

Francisco sempre pedia refeições leves e sem excessos. Por recomendação médica, teve de reduzir o consumo de massas e evitar alimentos picantes ou gordurosos.

Amante da Pizza

Apesar disso, era um amante da gastronomia. Como bom argentino, apreciava alfajores e mate, mas era apaixonado mesmo por pizza. Chegou a celebrar seu aniversário de 81 anos com uma pizza de quatro metros de comprimento, com uma vela no centro, e convidou um grupo de crianças atendidas por uma clínica pediátrica do Vaticano para compartilhar o banquete.

Embora não pudesse frequentar as pizzarias a poucos quilômetros do Vaticano, certa vez afirmou que um de seus desejos mais humanos seria sair disfarçado e comer em uma pizzaria como qualquer pessoa comum. Em 2015, durante uma visita a Nápoles, recebeu uma Margherita entregue em mãos por um pizzaiolo da cidade. O vídeo, naturalmente, viralizou.

A Comida como Mensagem

Francisco também compreendia o poder diplomático e inclusivo da comida. Em um almoço oferecido a pessoas em situação de rua em Roma, foi o menu que ganhou as manchetes. Francisco e sua equipe decidiram servir lasanha, mas a receita não levava carne de porco. O Vaticano havia percebido que alguns dos convidados eram muçulmanos e optou por oferecer uma refeição halal.

Inclusão e Polêmica

O gesto inclusivo do papa gerou polêmica entre políticos da direita italiana, que consideraram a atitude uma dupla ofensa: não apenas pela acolhida a imigrantes, mas também por “desfigurar” uma receita clássica da culinária italiana.

O Recado Mais Poderoso

Para Francisco, comer não era apenas um ato biológico, mas um gesto espiritual e político. Na Laudato si’, ele lembra que cuidar da terra e dos alimentos é também cuidar das pessoas. Ao rejeitar a ostentação à mesa e incluir todos à sua volta, o papa ecoava os valores de São Francisco de Assis: humildade, empatia e uma profunda ligação com a terra e com a natureza.

Em tempos de tanta polarização, talvez tenha sido à mesa, com simplicidade, que ele também ofereceu seu recado mais poderoso: garantir que todos tenham lugar e acolhimento, até na hora da refeição.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/rafael-tonon/2025/04/24/fa-de-pizza-e-alfajor-papa-francisco-levou-politica-e-espirito-a-mesa.htm

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