Recentemente, fui à tradicional pizzaria Speranza, no Bixiga. Era domingo à noite, o que significa muvuca garantida nas pizzarias de São Paulo.
Domingo à Noite: A Escolha Errada?
Nem sei por que escolhi esse dia, já que sempre defendi que pizza é boa em qualquer dia da semana e em qualquer refeição. Aliás, pizza no almoço é uma das minhas teses favoritas, pois uma bomba de carboidrato no jantar não é a melhor escolha para a saúde e a silhueta.
Mas, como nós paulistanos estamos condicionados à pizza no jantar de domingo, lá fui eu.
A Experiência na Speranza
A refeição em si foi ótima. Após o inevitável pão de linguiça, pedi a margherita, que é sagrada ali. Nem pense em pedir uma pizza de dois sabores; a margherita é indivisível.
O Problema da Espera
A chateação veio antes da refeição. Chegando de táxi, perguntei ao porteiro se havia espera. Dez minutos, disse ele. Ok. Dispensamos o táxi e colocamos nosso nome na lista da atendente. Perguntei novamente sobre a espera: quarenta minutos, talvez menos.
Verdade seja dita: foi menos. Mas por que anunciar um tempo de espera irreal? Por que não ser honesto com os clientes? Imaginei a resposta, mas evitei pensar muito para não estragar a refeição.
O Mistério das Filas
Naquele dia, resolvi ficar porque meu acompanhante tinha problemas de locomoção e buscar outro restaurante parecia desanimador.
Mas as outras pessoas, que ouviram que passariam 40 minutos esperando, não se abalaram. Estavam tranquilas e até contentes por saber que cedo ou tarde chegaria seu lugar ao sol.
O mistério é: por que o paulistano tem essa relação amorosa com as filas em restaurantes?
Filas em Restaurantes
Eu detesto fila em qualquer lugar. Mas em restaurantes, elas me parecem especialmente cruéis: se você foi até ali é porque está com fome, quer comer. Qual é a graça em ficar uma hora se embebedando de caipirinha e comendo amendoim e azeitona, para depois sentar já alterado e exasperado com o tempo de espera?
Não vejo sentido. E no entanto, é o que as pessoas enfrentam com entusiasmo.
Reservas: Uma Solução?
O hábito de fazer reservas em restaurantes até hoje não colou no Brasil. Mesmo que os horários de reserva sejam restritos, vale mais a pena comer num momento alternativo do que penar horas numa espera que raramente corresponde aos anunciados “vinte minutinhos”.
Parece que isso não é um incômodo geral, é somente meu. Você passa em frente ao Le Jazz, ao Z Deli e ao A Casa do Porco e está todo mundo feliz esperando, na chuva ou no sol.
No Famiglia Mancini, não são pessoas sozinhas ou casais, são famílias inteiras, conformadamente animadas. No Paris 6, as mocinhas ricas do interior não arredam pé, esperançosas de ver os artistas que dão nome aos pratos.
O Fetiche das Filas
Diz uma lenda que o paulistano tem certeza de que se o lugar não tem fila, não deve ser bom. E daí teria vindo esse fetiche desenvolvido na população da cidade. De minha parte, prefiro não esperar para conferir.
Há tempos adotei a disciplina de fazer reservas e ir a restaurantes em horários de calmaria. Topo comer cedo ou tarde, desde que possa comer com tranquilidade, consumir a caipirinha e as azeitonas no meu ritmo, sem cair no conto dos “vinte minutinhos” de espera.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/josimar-melo/2025/05/21/o-doentio-fetiche-por-filas-que-tanto-encanta-os-paulistanos-estou-fora.htm