Você já percebeu que está na moda, em alguns restaurantes super descolados, ter um cardápio inteiro de pratos para compartilhar? Esqueça a divisão tradicional entre petiscos, entradas e pratos principais. Agora, todos os pratos têm o mesmo tamanho, algo entre uma entrada e um prato principal. 🥂🍽️
Compartilhar é Legal?
Parece simpático e solidário, né? E é mesmo, principalmente se for em casa. Já houve época em que eu adotava serviços mais formais em casa, com tudo servido individualmente. Hoje, prefiro pratos para compartilhar, como sempre foi nas famílias brasileiras: travessas no centro da mesa, onde tudo é de todo mundo.
Mas, no restaurante, eu busco uma experiência diferente. Quero uma comida melhor que a minha, um serviço top e pratos lindos, bem montados, numa sequência orquestrada. Mesmo um filé à parmigiana rústico ganha um toque especial quando o garçom o parte e serve cada comensal.
Experiência no Clandestina
No final do ano passado, fui ao Clandestina, curtindo a cozinha incrível da chef Bel Coelho. Tudo lá é para compartilhar: pratos provocantes que destacam produtos brasileiros, como tiradito de melancia com ponzu de tucupi e ervas frescas; tempurá de pimenta de cheiro com beiju, camarão e molho picante de bacuri; tortelli de queijo quina com caldo de cebola caramelizada e cogumelos; e miniarroz de costela de gado curraleiro com jiló frito na farinha de milho.
A companhia da minha filha garantiu uma sinergia enorme. Nossos gostos parecidos evitaram qualquer colisão de preferências. E sem constrangimento ao compartilhar os talheres nos pratos no centro da mesa.
Outros Restaurantes
Tenho explorado outros restaurantes de pratos para compartilhar. No Jacó, do jovem chef Iago Jacomussi, provei vieira com molho de maracujá e coentro, dumpling de cogumelo com massa de guioza com carvão ativado, pimenta e caldo de tucupi; e barriga de porco com especiarias servida com polenta de milho e glace.
No descontraído Nomo, com a cozinha do chef Nando Carneiro e vinhos escolhidos pela sócia Patrícia Werneck, provei manjubinhas com azeite de salsão e kombu, purê de wasabi e rabanete; quiabo na brasa com coalhada de ovelha e crispy chilli oil; e cupim casquerado com mousseline de batatas, alho frito e pinoli.
Em outros restaurantes, como o Animus da chef Giovanna Grossi e o divertido Virado, também comi muito bem.
Desafios de Compartilhar
Mas nem sempre é fácil. Às vezes vou sozinho a um restaurante para dar uma primeira olhada. Aí, não há com quem compartilhar. E só me resta pedir dois ou três pratos pra ver se saio satisfeito.
Em almoços de trabalho, com pessoas não necessariamente íntimas, surgem desafios. Um adora carne, outro é vegetariano. Um gosta de pimenta, o outro não. Um tem alergias, outro diabetes. Solução: eliminar a maioria dos pratos até achar os denominadores comuns, ambos abrindo mão de suas preferências iniciais.
Ou então, as pessoas não se conhecem muito e não querem compartilhar o tempero da saliva do outro. Quando chega o prato no centro da mesa, pedem mais dois pratos limpos para se servirem. Isso resulta em mais pratos sujos, mais água e detergente usados.
Conclusão
Nos restaurantes que adotam pratos para compartilhar, tenho comido bem, graças a chefs talentosos. Pode ser divertido, dependendo da companhia e da ocasião. Mas também já passei por embaraços.
Os velhos restaurantes costumam ter porções maiores para dividir. Sugiro que os restaurantes com a nova tendência também ofereçam porções individuais, para que vegetarianos e carnívoros, celíacos e italianos, alérgicos e tolerantes possam compartilhar a companhia sem conflito.
Restaurantes Citados
Clandestina – R. Girassol, 833, Vila Madalena, São Paulo
Jacó – R. Fidalga, 357, Pinheiros, São Paulo
Nomo – R. Harmonia, 815, Vila Madalena, São Paulo
Animus – R. Vupabussu, 347, Pinheiros, São Paulo
Virado – Largo do Arouche, 150, República, São Paulo
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/josimar-melo/2025/06/04/prato-para-compartilhar-e-bom-em-casa-em-restaurante-nem-sempre-funciona.htm