Vale a Pena Pagar R$ 210 por um Sanduíche de Pastrami?

Você pagaria 38 dólares (cerca de R$ 210) por um sanduíche de pastrami? Esse é o preço cobrado na Katz’s Delicatessen de Nova York, famosa por servir um dos melhores sanduíches do mundo. Mas será que vale a pena?

Experiência na Katz’s Deli

Eu já experimentei. Na verdade, o preço é um pouco menor do que o post que vi nas redes sociais dizia. Custa em torno de 30 dólares (cerca de R$ 165), o que ainda é caro. A Katz’s Deli é histórica, fundada em 1888, mas é um lugar simples, sem garçom. O sanduíche também é simples, embora a carne tenha um preparo trabalhoso. Eu paguei para conhecer, mas não preciso repetir.

Katz's: filas constantes para comer o 'melhor sanduíche de pastrami de Nova York'Katz’s: filas constantes para comer o ‘melhor sanduíche de pastrami de Nova York’ – Reprodução Instagram (750×1)

O Sanduíche

Como na maioria das delis de Nova York, o pão me parece meio seco, e o pastrami, menos suculento do que eu gostaria. Na Katz’s, o pastrami não é tão ressecado quanto em outros lugares, mas ainda assim, é caro para um sanduíche, mesmo com a quantidade gigantesca de carne servida. E isso me incomoda: que sanduíche é esse em que o pão desaparece, tamanho é o recheio?

Essa não é uma queixa nova. Em 2006, escrevi na Folha de S.Paulo sobre os “mitos” da gastronomia paulistana, como o sanduíche de mortadela e o pastel de bacalhau do Mercadão. Doze anos depois, meu colega Marcos Nogueira retomou o tema, chamando-os de “micos”.

Tradicional sanduíche de mortadela do Bar do ManéTradicional sanduíche de mortadela do Bar do Mané – Instagram/bardomane (750×1)

Excesso de Recheio

O problema comum ao sanduíche e ao pastel é o excesso de recheios. Ambos merecem equilíbrio entre seus componentes, dando o merecido papel também para o pão ou para a massa de pastel. Um simples pão francês de padaria pode ser uma maravilha, bem melhor que o seco pão de centeio da Katz’s, por exemplo. No sanduíche do Mercadão, o pão costumava ser gostoso e de casca crocante, mas só se você conseguisse senti-lo sob a avalanche de mortadela.

Bar do ManéBar do Mané: recheio farto era para alimentar bem os trabalhadores do Mercadão – Divulgação (750×1)

História do Sanduíche do Mercadão

O sanduíche do Mercadão tem uma bela história contada pelo dono do Bar do Mané: foi moldado nessas proporções gigantescas porque era ofertado aos carregadores que entregavam mercadorias no mercado de madrugada. Era uma refeição para trabalhadores braçais. Se não for verdade, é uma boa história.

Excessos nos EUA

Nos Estados Unidos, a prática de comer pratos gigantescos não parece ter nascido para saciar fomes laborais. Parece um hábito incorporado numa sociedade de excessos de consumo em todos os níveis. Certa vez, fui a Nova York com minha filha adolescente e fiz reservas em bons restaurantes. Em um dia livre, entramos em um lugar bonitinho, mas ordinário. Ela pediu um sanduíche de atum e veio uma torre com duas fatias de pão e um monte de recheio. Eu pedi um frango com legumes, e veio um prato gigantesco e insosso.

Sanduíche (exagerado) do Katz'sSanduíche (exagerado) do Katz’s – Reprodução Instagram (750×1)

Reflexão sobre Exageros

Quantidades exageradas são um paradigma de acumulação que não deveria valer nem para o dinheiro, muito menos para a comida. No passado, comer muito era importante quando não se sabia se haveria alimento no dia seguinte. A cultura e a civilização deveriam superar isso. Achar que sanduíches, porções ou pratos gigantescos são um sinal de qualidade é um erro que a Katz’s e o Mercadão já poderiam ter superado.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/josimar-melo/2025/06/25/sanduiches-do-katzs-e-do-mercadao-de-sp-mitos-inflados-de-carne-e-fama.htm

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