Na madrugada de 29 de maio de 1914, o transatlântico canadense Empress of Ireland estava parado no rio São Lourenço, esperando que o nevoeiro diminuísse para seguir viagem rumo à Inglaterra. De repente, foi atingido pelo carvoeiro norueguês Storstad e afundou quase instantaneamente, matando 1.014 dos seus 1.477 ocupantes. Foi a terceira pior tragédia da travessia do Atlântico Norte, atrás apenas dos naufrágios do Titanic e do Lusitânia.
Vítima Desconhecida
Entre as vítimas estava Albert Mullins, um pequeno empresário inglês que voltava para casa após uma longa viagem de negócios. Seus descendentes nunca souberam o que aconteceu com ele.
Achado Surpreendente
Recentemente, Caroline Mullins, sobrinha-neta de Albert, recebeu uma resposta do historiador canadense David Saint-Pierre, especialista no naufrágio do Empress of Ireland. A mensagem continha uma revelação surpreendente: a valise de Albert Mullins havia sido encontrada e resgatada dos escombros do navio. Dentro dela, havia objetos e pedaços de textos escritos por ele, ainda legíveis após mais de um século submersos.
Caroline viajou ao Canadá para ver e tocar essa improvável herança deixada por seu parente distante.
Cartas e Miniaturas
No museu da Société d’Histoire du Bas-Canada, em Quebec, Caroline folheou um álbum contendo fragmentos dos textos escritos por Albert Mullins, principalmente relatórios comerciais que resistiram ao contato com a água. Ela também manuseou miniaturas em ferro dos móveis que ele vendia, encontrados na mala por um mergulhador 39 anos atrás.
Desde então, o historiador Saint-Pierre tentava localizar os descendentes de Mullins para informar sobre o achado. Ele levou anos para confirmar a identidade do dono da mala, comparando a caligrafia das cartas com antigos documentos da empresa Barnes and Mullins, fundada por Albert.
“Ele tinha uma caligrafia peculiar, especialmente nas letras ‘f’ e ‘e’, o que ajudou a identificar o dono da mala”, explicou o historiador.
Dois Anos Após o Titanic
No início do século passado, o Empress of Ireland era o principal transatlântico do Canadá, com capacidade para mais de 1.500 pessoas. Já havia feito a travessia entre a Europa e a América do Norte 95 vezes sem incidentes, ao contrário do Titanic, que afundou dois anos antes.
Segurança e cautela eram prioridades para o capitão do navio, Henry Kendall. Quando o nevoeiro no rio São Lourenço ficou mais intenso, ele parou o navio para aguardar melhores condições de visibilidade. Ele avistou as luzes de navegação de outro navio, o cargueiro norueguês Storstad, e mandou soar dois apitos curtos para avisar sobre a presença do transatlântico.
O aviso foi respondido, mas o Storstad inexplicavelmente veio na direção do Empress of Ireland e o acertou na lateral do casco. O comandante Kendall tentou evitar o choque, mas não deu tempo.
Ordem de Abandonar o Navio
A colisão abriu um rombo enorme no casco do Empress of Ireland, que afundou completamente em apenas 14 minutos. O capitão Kendall ordenou que os botes salva-vidas fossem baixados, mas poucos puderam ser colocados na água.
Das quase 1.500 pessoas a bordo, apenas pouco mais de 400 sobreviveram. Alguns foram resgatados pelo próprio Storstad, que não afundou devido à sua proa reforçada.
Investigação
O inquérito apontou a tripulação do cargueiro como responsável pela colisão, embora um tribunal norueguês tenha imputado a culpa ao comandante do transatlântico por ter ficado parado no rio.
Outro Acidente Famoso
Colisões de navios não eram raras naquela época, especialmente sob densos nevoeiros. Um dos acidentes mais famosos foi o choque entre os transatlânticos Andrea Doria e Stockholm, perto de Nova York, em julho de 1956. Apesar das dimensões da tragédia, apenas pouco mais de 50 pessoas perderam a vida.
No caso do Empress of Ireland, o número de mortos superou em muito os que escaparam com vida. Entre as vítimas estava Albert Mullins, cujos pertences só agora chegaram à família, 111 anos depois.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/08/20/111-anos-depois-objetos-de-vitima-de-naufragio-tragico-chegam-a-familia.htm