Se você vivesse na Mesopotâmia há 2,5 mil anos, Pazuzu faria parte do seu cotidiano. Essa divindade era comum entre babilônios e assírios no primeiro milênio antes da Era Comum.
Quem é Pazuzu?
Arqueólogos descobriram muitos amuletos com a figura de Pazuzu: corpo escamoso, cabeça canina, olhos esbugalhados, garras de aves e pênis de serpente. Eles encontraram cabeças de Pazuzu feitas de terracota, bronze, ferro, ouro, vidro ou ossos.
Pazuzu era uma entidade demoníaca, e foi essa característica que o trouxe para a cultura pop nos anos 1970. O espírito maligno que possui a menina no clássico “O Exorcista” se chama Pazuzu.
Pazuzu no Labubu?
Em 2025, Pazuzu voltou a chamar atenção, mas de uma forma bem mais esquisita. E se, em vez de uma criança em uma obra de ficção, esse demônio mesopotâmico tivesse possuído milhões de cópias do brinquedo mais falado do ano?
Até poucos meses atrás, pouca gente sabia o que era um Labubu. Mas o brinquedo virou febre no Ocidente depois que celebridades como Rihanna e David Beckham começaram a aparecer com ele.
O monstrinho foi criado em 2015 por um artista de Hong Kong inspirado na mitologia nórdica. Ele se tornou popular por seu potencial colecionável: há centenas de modelos, vendidos em caixas fechadas, como os envelopes de um álbum de figurinhas.
Mas são as feições cartunescas, com grandes olhos e sorriso maroto, o maior chamariz. Justamente elas inspiraram a teoria da conspiração mais esquisita dos últimos tempos.
Em julho, vídeos nas redes sociais alegavam que esses bonecos são demoníacos. As imagens mostravam as supostas semelhanças entre o Labubu e Pazuzu e ainda traziam um trecho de ‘Os Simpsons’ para endossar o argumento.
No especial de Halloween da 29ª temporada, que foi ao ar em 2017, Homer compra pela internet, sem querer, uma estátua de Pazuzu, que acaba possuindo Maggie.
A mensagem pegou. Outros vídeos apareceram nas redes, com pessoas cheias de medo e raiva destruindo seus bonecos.
Não existe nenhuma evidência de que o criador do Labubu, Kasing Lung, tenha se inspirado em Pazuzu ou em qualquer elemento das mitologias da Mesopotâmia. Muito menos de que o monstrinho tenha alguma força maligna.
Amuleto e proteção
Diversas cabeças de Pazuzu encontradas em escavações têm buracos no topo. É um indicativo de que as pessoas os usavam pendurados em colares ou como broches.
Os arqueólogos descobriram muitos desses artefatos em sepulturas. Quer dizer, Pazuzu não era apenas uma entidade maligna, mas oferecia também alguma proteção.
Textos ritualísticos mostram que mulheres grávidas podiam usar amuletos de Pazuzu para protegê-las contra abortos espontâneos. Amuletos maiores sugerem que não serviam para ser usados no corpo, mas pendurados nas paredes.
Os pesquisadores encontraram um desses no chão de uma casa no sítio arqueológico de Dur-Katlimmu, no leste da Síria. Ora, ninguém teria algo puramente mau pendurado no pescoço ou na parede de casa, certo?
Então, o que especialistas em civilização assíria afirmam é que Pazuzu também tinha funções positivas. Podia ser visto como uma entidade benéfica, que protegia contra os ventos da pestilência.
Era uma espécie de “mal contra o mal”. Representava uma força destrutiva, mas também um escudo contra outros demônios.
Os discursos contra o Labubu são vazios em conteúdo e estúpidos na forma, mas sem querer eles podem ter alguma razão. Labubu e Pazuzu têm, sim, algumas semelhanças, mas não as diabólicas mencionadas.
Os assírios de Nimrud, há 2,7 mil anos, andavam por aí com amuletos de Pazuzu, assim como muitas pessoas hoje acham legal desfilar com Labubus presos a suas bolsas.
Pois não é que há usos religiosos do Labubu, para além do fashionismo? Em 2024, um festival taoísta em Singapura adotou os monstrinhos, devidamente em trajes de devotos, para atrair um público mais jovem.
Na Tailândia, teve quem começou a acreditar que eles podem trazer boa sorte. Passaram a fazer tatuagens do bichinho com motivos sagrados e até a usá-los em amuletos budistas.
Podem até atrair boa sorte. Mas o problema é que também atraem os tais “homens performáticos”, nome gringo para os esquerdomachos que curtem Labubu. É a velha roda do mal repelindo o mal girando mais uma vez.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/terra-a-vista/2025/09/08/labubu-e-demoniaco-o-que-ha-por-tras-da-lenda-urbana-mais-bizarra-do-ano.htm