Chega de Zona Oeste nesta coluna. Bora pegar a Avenida Pacaembu, atravessar o Rio Tietê e descobrir o que tem nos arredores da Brás Leme para além do Bar do Luiz Fernandes, um clássico da cidade (e um dos meus queridinhos).
Gallette Chocolates
Começando pela Gallette. A fábrica que faz chocolate do zero, a partir da amêndoa de cacau brasileira, tem uma loja aberta ao público onde é possível tomar café, provar uns produtos e levar outros para casa.
Quando abriu o negócio, em 2012, Gislaine Gallette transformava chocolate em barras e bombons nos fundos da loja aberta em Santana. Em 2017, a fábrica – uma das únicas na ZN – virou uma marca bean-to-bar, com produção assistida da plantação do cacau à barra. Entre as variações do fruto aparece o catongo, uma mutação que só nasce na Bahia e é usada na barra 65% (R$ 33,2).
Dos lançamentos recentes, o creme de caramelo com chocolate leva matéria-prima 56% de cacau mais caramelo numa mistura boa para passar num pãozinho ou comer de colherada direto do pote. Vai lá: Rua Augusto Tolle, 245, Santana.
Jullia Pizzaria
De lá, seguimos com base nas indicações dos responsáveis pelos estabelecimentos para a próxima parada, até fechar com um boteco. Veja o roteiro completo aqui embaixo:
“Para nós, a Jullia não é só uma pizzaria – é um lugar onde nos sentimos em casa”, indica Gislaine Gallette. A ligação é tanta que ela até produziu um chocolate inspirado numa sobremesa do restaurante: o sorvete de macadâmia, raspas de coco queimado e creme de avelã (R$ 42). Antes do doce, melhor dar garfadas na pizza belíssima, de mussarela, gorgonzola, geleia de figo e presunto cru (R$ 139).
À frente do negócio está Alessandro Molina, que, segundo Gislaine, vira e mexe recebe a clientela no salão: “o atendimento é impecável, sempre atencioso”. Vai lá: Rua Francisca Júlia, 465, Santana.
Braca Bar
Primo do carioca Bracarense, este bar chegou a São Paulo em 2022 pelas mãos de Kadu Tomé, da família do endereço original, e Augusto Vianna, do Esquina do Souza. Depois do sucesso na Zona Sul, os sócios abriram uma unidade do outro lado da cidade, em Santana, conquistando rapidamente vizinhos como Alessandro Molina, da Jullia.
O chope gelado (R$ 9,50) pode ser servido num formato comum ao Rio, o garotinho, em que o copo é menor que o usual. A petiscagem rola com empadinhas, caso da de camarão (R$ 15 a unidade), e caldinho de feijão (R$ 25). Vai lá: Rua Augusto Tolle, 253, Santana.
Bar Bambu
Cachaça, cerveja gelada, bolinhos fritos na hora, balcão de acepipes e atendimento amigável – o combo para o boteco ideal é a sugestão de quem entende do negócio, Kadu Tomé. Fundado em 1971 por Alberto Fernandes Pinheiro, Seu Betinho, o lugar hoje é tocado pelo filho Orlando.
No salão sem frescura ou na varanda nos fundos, o lance é provar bolinhos originais como o espanhol (R$ 35 seis unidades), de massa de ervilha recheado com queijo de cabra e presunto ibérico, e porções como a de torresmo. Vai lá: Rua Conselheiro Moreira de Barros, 1084, Santana.
Bebendo à Moda Latina
Arriba! Os países hermanos ganham cada vez mais representantes na nossa coletânea de bares e restaurantes – e o sabor vai da cozinha para as taças com leveza e referências tropicais. Toques apimentados também têm vez, já que estamos falando de culturas alimentares e etílicas calientes.
Do Peru, um bom e novo representante da onda latina é o restaurante Mares de La Peruana, desdobramento 2.0 da cevicheria La Peruana. A chef e proprietária Marisabel Woodman convidou o mestre Jean Ponce (Guarita Bar) para criar coquetéis vibrantes, que conversam de igual para igual com a gastronomia da casa.
Do México, com toques de brasilidade, LosDos Cantina há algum tempo se desdobrou de taqueria de portinha para um amplo e gostoso salão na Vila Buarque. A coquetelaria de Hannah Jacome, que lança nova carta, também é solar, refrescante e, volta e meia, “rouba” elementos da cozinha de Caio Alciati e João Gertel.
Mares de La Peruana
Se quiser frescor no primeiro drinque, peça Yma Sumac (R$ 49), com vodca em infusão de baunilha, compota de yuzu, maracujá, laranja, limões e espumante. Sete Mares (R$ 45), ácido e frutado, leva destilado de pera em infusão de salsinha, gim, capim-santo, cítricos e espuma de abacaxi com coentro.
Também tem para quem busca um trago mais seco, com base na família dos martinis. Miraflores (R$ 45) é mix de pisco, Lillet, jerez fino, blend de vermutes brancos e uma fatia de grana padano com leche de tigre (caldo do ceviche) de pimenta amarela. Vai lá: R. Ferreira de Araujo, 299, Pinheiros.
LosDos Cantina
Em Pinche Punch (R$ 39), a tequila prova que pode brilhar em coquetéis refrescantes, na companhia de rum, maraschino, orgeat (xarope de amêndoas) e espumante. Ahumado Collins (R$ 42) agrada a quem curte sabores defumados, sem perder a pegada cítrica. Nele, o uísque escocês turfado (ingrediente do popular Penicillin) harmoniza com tequila, limão e bitter de laranja.
Midas (R$ 39) é outra reinvenção do martini com gim em infusão de manga, amêndoas, jerez, vermute bianco, saquê e salsa macha, tempero mexicano com pimentas, amendoim, alho e mais. Vai lá: R. Dr. Vila Nova, 150, Vila Buarque.
A História da Cerveja em Quadrinhos
Quer conhecer melhor a bebida mais popular do mundo de um jeito colorido e divertido? “A Incrível História da Cerveja” conta essa trajetória em quadrinhos, das beberagens pré-históricas aos dias de hoje.
A personagem Stella, garota sabida e curiosa, volta no tempo e encontra evidências da fermentação de cereais datadas de até 13 mil anos atrás, no Oriente Médio, no norte da África e na China.
A aventura fica mais empolgante quando Stella chega à Mesopotâmia, no 4º milênio antes de Cristo, berço da escrita e das primeiras receitas de cerveja registradas da história. Depois de rodar por civilizações antigas, a viagem se concentra na Europa, onde o lúpulo é descoberto como importante conservante para a bebida.
O desenvolvimento de estilos múltiplos na Inglaterra, na Alemanha, na Checoslováquia e na Bélgica abre as portas para a amplitude sensorial. A diversidade, porém, é diluída depois da Segunda Guerra, com a predominância da levinha american lager no mercado mundial.
Outra reviravolta, a das cervejas artesanais, na virada do século 20 para o 21, é narrada pelo jornalista francês Benoist Simmat e seu colega ilustrador Lucas Landau com humor e entusiasmo. Stella encontra os responsáveis por essa nova revolução e mostra como a cultura cervejeira ainda resiste à padronização imposta pela grande indústria.
De Simmat, em parceria com o quadrinista Daniel Casanave, a L&PM também lançou A Incrível História do Vinho. São obras fundamentais para quem quer beber com sabedoria.
Vai lá: A Incrível História da Cerveja, de Benoist Simmat e Lucas Landau. 224 páginas, L&PM Editores. R$ 94,90.
Floresta Negra: O Retorno
Ele está de volta. O floresta negra, bolo das festas de aniversário dos anos 1980 e 1990, reapareceu nas celebrações e agora inspira novas criações de confeiteiros paulistanos.
Criado na Alemanha, o doce leva o nome de uma região no sul do país que é conhecida pelo cultivo de cerejas e pela produção do kirsch, o destilado feito da fruta. E é justamente essa combinação que define o bolo: camadas de chantilly, chocolate, cerejas em compota e, na receita original, uma dose generosa da bebida. Confira onde provar releituras:
Komah Bakery
Até esta padaria-confeitaria coreano-paulistana abriu espaço para a floresta negra na vitrine. A cereja aparece no interior do entremet feito de musse de gergelim preto e base de biscoito (R$ 35). Os sabores predominantes são ácidos e tostados – além do doce, é claro. Vai lá: Rua Girassol, 273, Vila Madalena.
Sorveteria do Centro
Todos os sabores da sorveteria de Jefferson Rueda são criativos. O floresta negra vai na casquinha escura, com bordinha verde que remete à natureza. No interior, tem sorvete de leite, chantilly, cerejas frescas e em compota, mais calda e raspas de chocolate. Vai lá: Rua Epitácio Pessoa, 94, Centro.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/09/20/um-roteiro-gastronomico-por-santana.htm
