A Saga do Veleiro Shtandart: Navegando em Águas Turbulentas na Europa

Desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o comandante do veleiro Shtandart, uma réplica de uma antiga fragata russa, o russo Vladimir Martus, vive uma situação dramática. Ele tenta driblar as dificuldades com ações controversas, que já o levaram a ser expulso da Espanha e proibido de atracar seu barco em diversos países da Europa.

Incidente em Portugal

Na semana passada, em Portugal, a Marinha Portuguesa interceptou um bote de apoio do Shtandart perto da costa do Algarve. O bote levava novos tripulantes para o veleiro. Eles foram detidos para questionamentos, mas como não havia nada de irregular, foram liberados. No entanto, foram alertados para não tentar atracar o barco em nenhum porto de Portugal, sob risco de expulsão do comandante.

Barrado em Diversos Países

Além da Espanha, o barco de Martus já foi barrado em portos da Irlanda, Reino Unido, Noruega e Dinamarca. Mesmo assim, ele continua tentando furar o bloqueio imposto pela comunidade europeia. Atualmente, o Shtandart navega em direção ao Estreito de Gibraltar, com destino ao Marrocos e depois à Turquia, onde novos problemas são esperados.

Por que Não Pode Parar?

A União Europeia, em retaliação à invasão russa à Ucrânia, proibiu a atracação de embarcações com bandeira da Rússia em todos os portos do continente, exceto em situações de emergência ou ajuda humanitária. Desde então, Martus tenta driblar essa proibição para continuar seu negócio de ensinar jovens a navegar entre portos europeus.

Estratégias Controversas

Para contornar o problema, Martus mudou o registro do barco da Rússia para as Ilhas Cook, uma micronação no Oceano Pacífico, usando uma técnica conhecida como “bandeira de conveniência”. Ele também desliga o equipamento de rastreamento eletrônico do barco para evitar detecção e alega emergências humanitárias para conseguir autorizações de atração.

Recentemente, Martus emitiu um pedido de socorro para atracar na Espanha, alegando que o gerador do barco havia pifado, colocando todos a bordo em “situação de risco”.

O Barco e Seus Tripulantes

Atualmente, além de Martus, o Shtandart navega com 11 jovens de diferentes nacionalidades, todos dispostos a aprender a navegar como antigamente. Eles vivem a experiência de serem considerados quase como piratas, embora Martus negue qualquer irregularidade.

“Meu barco não é russo, muito menos espião. Ele não gera nenhum centavo para a Rússia e não frequenta os portos daquele país há mais de 15 anos. Ele foi apenas construído lá, já que é uma réplica fiel de uma histórica fragata russa do século 18”, argumenta Martus.

“Somos um barco de paz, de unidade europeia, não de propaganda em favor da guerra”, diz o comandante russo, acrescentando que a decisão da União Europeia se aplica apenas a embarcações que utilizam a bandeira da Rússia ou que contribuam para o esforço de guerra daquele país.

A Origem do Barco

O Shtandart, construído por Martus na Rússia em 1999, é uma réplica fiel da fragata homônima, primeira nau capitânia da Marinha Imperial Russa, lançada ao mar em 1703. Seu nome significa o “desejo de Pedro, o Grande”, czar que lutava para ter acesso ao Mar Báltico, dominado pelo Império Sueco na época.

Para o movimento No Shtandart in Europe, a presença do Shtandart em um porto europeu soa como uma provocação da Rússia. Eles acusam Martus de fazer chantagem humanitária para atracar nos portos, recarregar mantimentos e embarcar novos alunos.

Um Caso Parecido no Brasil

No Brasil, o último caso de proibição de atracação foi causado pela suspeita de contaminação do ex-porta-aviões São Paulo, vendido para desmanche na Turquia. O navio teve que ser devolvido ao Brasil e foi proibido de atracar, resultando no afundamento pela própria Marinha.

A saga do Shtandart continua, com Martus navegando em águas turbulentas, tentando manter seu projeto de ensino de navegação vivo, apesar das restrições e controvérsias.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/10/01/por-que-nenhum-pais-da-europa-permite-que-esse-lindo-barco-pare-no-porto.htm

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