Rasmus Munk não é apenas mais um chef em ascensão: ele é provavelmente o cozinheiro mais comentado do planeta hoje.
Reconhecimento Global
Nesta quinta-feira, em Milão, o dinamarquês foi reconhecido pela segunda vez seguida como o melhor do mundo no The Best Chef Awards, a premiação que se tornou a mais importante da categoria e que premiou o maior número de brasileiros em todas as suas edições.
Aos 34 anos, Munk é o comandante do Alchemist, restaurante em Copenhague que une ciência, gastronomia e espetáculo em uma experiência imersiva que termina (alerta de spoiler) com os clientes dançando e pintando uma parede com tinta comestível.
Quem quiser um lugar à mesa (na verdade, um enorme balcão que se espalha por todo o espaçoso salão) precisa esperar meses por uma reserva e desembolsar cerca de R$ 3.500 pelo menu.
Visita ao Brasil
Em novembro, ele estará no Brasil para ser a atração principal do Mesa Tendência, um dos principais congressos de gastronomia do país. Mas, mais do que uma palestra, ele promete fazer pelo menos um jantar em São Paulo, onde será possível provar algumas de seus inovadores pratos.
Um deles deverá ser um de seus mais icônicos: uma colher-língua feita de silicone que é preciso chupar para sentir os sabores de uma pasta que a recobre, como se fosse um “beijo de língua” (que é, precisamente, o nome da receita).
Cozinhar fora de casa para ele é um desafio, longe de uma cozinha equipada com todos os tipos de máquinas e fogões que um chef pode sonhar em ter (de brasas com carvão japonês até uma tela gigante que controla em tempo real todos os pratos que são servidos nas mesas).
Cozinha nas Estrelas
Mas tem sido um ensaio importante para um ambicioso passo que o chef pretende dar ano que vem. Ele comandará aquele que promete ser o jantar mais exclusivo e caro da história: a primeira refeição criada por um chef no espaço.
Dentro de uma cápsula espacial, a 30 mil metros de altura, com a curvatura da Terra como cenário, apenas seis convidados pagarão 2,5 milhões de reais cada para assistir ao nascer do sol enquanto provam pratos à prova das leis terrestres.
O cardápio ainda está em desenvolvimento, já que precisa ser testado em condições extremas, mas o chef promete uma atualização criativa de 60 anos de pesquisa espacial talvez até uma releitura do famoso sorvete liofilizado criado para a missão Apollo.
É um desafio digno de alguém que transformou a cozinha em espetáculo. O Alchemist, que custou mais de US$ 15 milhões para ser erguido em um antigo armazém náutico de 1,8 mil metros quadrados, é em tudo estratosférico.
Experiência Sensorial
Das portas de bronze da entrada que pesam duas toneladas às cinco salas temáticas por onde passa o cliente que misturam música, teatro, projeções em 3D e pratos que parecem obras de arte.
Não se trata apenas de um jantar (o restaurante só abre à noite): é uma experiência sensorial, onde até a trilha sonora é criada por um engenheiro de som dedicado a cada momento do menu. Também oferece alguns dos melhores vinhos que se pode imaginar beber a adega, construída verticalmente em dois níveis, tem mais de 10 mil garrafas.
Arte à Mesa
Munk chama sua cozinha de “gastronomia holística”, na qual o que se sente tem tanta importância quanto o que se come. Às vezes divertidos, às vezes chocantes, ele quer que seus convidados saiam de seu espaço no mínimo impactados com os mais de 20 pratos que ele serve por refeição.
Por isso, muitas vezes, essa sensação vem acompanhada de provocações éticas e políticas. Ele já serviu frango em mini-jaulas para falar sobre a vida nas granjas industriais, criou um chocolate em forma de caixão para criticar a exploração da cadeia do cacau e apresentou um olho gigante recheado de creme de milho e lagosta enquanto o salão era invadido por uma projeção de chuva de olhos em 360º, evocando George Orwell.
“A gastronomia pode ser mais do que um ofício, e que a comunicação através da comida pode ser uma linguagem artística significativa. A comida tem o poder de gerar conversas, levantar questões e inspirar mudanças”, disse ele, no palco em Milão, cidade que recebeu o The Best Chef Awards, depois de ser anunciado o número 1 do mundo.
Inovação Gastronômica
Além do restaurante, Munk inaugurou recentemente o Spora, um centro de inovação gastronômica com mil metros quadrados de área de pesquisa a algumas centenas de metros do Alchemist, também em Copenhague, que une laboratórios de microbiologia, design e som 3D.
A ideia grandiosa é ampliar sua (e a nossa) visão sobre como vamos alimentar a nossa sociedade no futuro: segundo ele, ao desenvolver novos alimentos e tornar a nutrição mais acessível.
Um de seus primeiros projetos foi criar refeições adaptadas para crianças em tratamento contra o câncer, em parceria com um hospital infantil. Agora, ele trabalha com fundações e universidades internacionais para transformar gás carbônico em proteína.
O projeto, que faz parte de um consórcio financiado com 21,7 milhões de euros pela Fundação Novo Nordisk e pela Fundação Gates (de Bill Gates), reúne instituições de pesquisa e empresas privadas para transformar uma das maiores ameaças climáticas (o CO₂) em proteína simples e, depois, em alimentos nutritivos com potencial para alimentar mais de um bilhão de pessoas por ano no futuro.
É ainda mais grandiloquente, talvez, do que cozinhar no espaço. Mas uma constatação das razões porque o nome de Munk não para de aparecer em reportagens, listas, prêmios e nas conversas entre chefs e personagens da gastronomia.
Se ele é mesmo o mais talentoso cozinheiro do mundo é difícil dizer com qualquer traço de objetividade listas e prêmios são, no mínimo, discutíveis em sua essência.
Mas que Munk tem feito de tudo para despontar no cenário gastronômico como um foguete que todos consigam ver de longe no céu, isso é um fato. E um prêmio como melhor chef do planeta está anos-luz de ser sua melhor jogada.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/rafael-tonon/2025/10/03/melhor-chef-do-mundo-planeja-um-jantar-no-espaco-e-vem-cozinhar-no-brasil.htm
