Nova Série na Apple+ Revela a Pressão e os Desafios dos Chefs em Busca das Estrelas Michelin

Para os vencedores, a glória. Para todos os que tentam alcançá-la, a pressão, o estresse, as dívidas, as noites sem dormir e os meses longe da família.

Acaba de estrear no streaming (Apple+) uma série que promete mostrar os bastidores da busca implacável de empresários e chefs para alcançar o céu da gastronomia.

Ou, em outras palavras, conquistar uma (ou duas ou três) estrela(s) do Guia Michelin, o mais respeitado e temido dos reconhecimentos que um restaurante pode almejar.

A Série

Enquanto filmes e documentários focam na ascensão, no glamour e em histórias inspiradoras de cozinheiros que aprenderam a cozinhar vendo suas avós diante do fogão ou que num sopro divino perceberam que tinham talento para aquilo, a série ‘Na Ponta da Faca’ (e a versão em português do título ‘Knife Edge’) quer mostrar o mundo real, os perrengues e a alta pressão para chegar às estrelas — ainda que o faça com algum excesso de açúcar, é verdade, na simpática (e um tanto forçada) presença de Jesse Burgess.

Cofundador da plataforma global de gastronomia TOPJAW, uma ponte entre o público e esse universo exclusivo, ele tem a função na tela de ajudar a aproximar e humanizar o mundo das estrelas Michelin.

É ele que traz algum contexto informativo: explica, por exemplo, o papel dos inspetores (alguns mostrados no documentário, sem mostrar o rosto, claro!) de avaliar as receitas que provam com muito rigor.

Conta que, em termos gerais, uma estrela pode incrementar o faturamento de um restaurante em 20% e que três delas podem ter um efeito bombástico sobre as contas, duplicando o que se fatura num ano. O que explica o jogo quase obsessivo por conquistá-las.

Outro nome, na verdade, é que fez com que a série chamasse ainda mais atenção: o chef Gordon Ramsay, aquele conhecido na televisão por xingar cozinheiros e quebrar pratos de receitas que desaprova, é o produtor executivo e a cabeça por trás do conceito.

O projeto resultou em uma produção global de um ano, filmada em vários continentes — entre cidades como Nova York, Copenhague e Cidade do México —, em oito episódios que mergulham na adrenalina da busca do prêmio mais cobiçado da culinária.

A narrativa é crua e intensa e tenta trazer uma cronologia para colocar o espectador no centro da ação — entre mudanças de última hora no menu, pratos que caem, momentos de dúvida, resistência e superação.

A ideia é mostrar o que está em jogo para chegar ao patamar mais alto da gastronomia global: viver longe dos filhos, receber críticas odiosas de clientes nas redes sociais, brigar com sócios e equipes, abdicar de uma vida pessoal, ter dívidas que chegam a milhares de dólares para poder abrir as portas.

Ainda se apresenta todo o esforço. Há receitas esteticamente impossíveis de serem realizadas no cotidiano de um restaurante, o ímpeto de surpreender que põe o risco de fogo em uma mesa e um menu degustação de 30 pratos que muda todos os dias; uma combinação de genialidade e loucura. Todos os episódios se equilibram entre exaustão e perfeccionismo, o que aumenta a carga dramática.

Tudo para provar que, mesmo depois de tanto tempo — o Michelin foi criado no início de 1900 para incentivar os motoristas a viajar mais pela França (e assim vender mais pneus), e acabou se tornando, quase por acaso, a principal referência mundial em gastronomia —, o Guia continua gerando fascínio e obsessão.

Acerto na Realidade

Como bem mostra a série, chefs e restaurateurs continuam a sonhar com as estrelas, já que elas podem desde colocar um restaurante no mapa até o eternizarem como um clássico da gastronomia. Por isso, as cerimônias de entregas das estrelas têm esse aspecto de “Oscar”, como bem pontua Burgess.

Mas para além do verniz marqueteiro (tanto para Burgess, para a Apple+ como para o próprio Michelin, claro), a série acerta mais quando olha para os casos reais, para o que os chefs põem em jogo para colocar as mãos numa estrela — ou melhor, em uma placa que diz quantas estrelas seu negócio conquistou.

É um retrato em carne viva de um mercado altamente competitivo em que o reconhecimento não só pode determinar o sucesso financeiro, mas a própria existência.

“Quando abrimos eu sonhava com uma estrela Michelin”, diz o chef Jake Potashnick a certa altura. “Agora, a Michelin pode ser a salvação do nosso restaurante”, afirma, referindo-se a uma chuva de críticas negativas que seu restaurante recebeu após a inauguração.

Os casos reais — ainda que claramente roteirizados para ganhar um tom mais dramático, como é próprio da televisão — são o que realmente dá sabor à série. São eles que revelam personagens dispostos a ultrapassar seus próprios limites, enfrentando jornadas quase desumanas para conquistar um lugar de destaque. E, com sorte, fazer brilhar as suas estrelas.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/rafael-tonon/2025/10/16/investimentos-milionarios-e-burnout-quanto-vale-ter-uma-estrela-michelin.htm

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