Traficante Italiano Foge da Prisão e Seu Paradeiro é Desconhecido

Dois meses e meio atrás, o traficante italiano Antonino Giuseppe Quinci, de 68 anos, escapou da cadeia em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte. Ele estava preso por tráfico de drogas, após ser capturado perto da ilha de Fernando de Noronha com 632 quilos de haxixe a bordo de seu veleiro, navegando sozinho do Brasil para a Europa. Antonino fugiu após romper a tornozeleira eletrônica que o mantinha sob monitoramento, aproveitando o benefício da prisão domiciliar por bom comportamento.

Até hoje, seu paradeiro é desconhecido.

É provável que Antonino tenha fugido para algum país da América do Sul ou Europa a bordo de outro barco, já que o mar sempre foi seu principal meio de locomoção e negócio, conduzindo veleiros carregados de cocaína e outras drogas.

Quarta fuga da prisão

Antes de desaparecer do Rio Grande do Norte, Antonino já havia sido preso outras três vezes pelo mesmo motivo – tráfico de entorpecentes – e em todas também fugiu da prisão: uma vez na Itália, outra em Portugal e a terceira no Brasil, em 2012, quando foi pego tentando levar 270 quilos de cocaína para a Europa a bordo de outro veleiro.

Na ocasião, ele usou um nome falso (José Aníbal Salgueiro Costa Aguiar), que inacreditavelmente foi mantido na condenação, o que mais tarde lhe trouxe benefícios, pois ao ser preso novamente, nove anos depois, a justiça brasileira não fez a ligação de uma condenação à outra, o que certamente aumentaria sua pena – além de permitir um acréscimo extra por falsidade ideológica.

Mas isso, na prática, pouco importaria. Porque, como já havia feito antes, Antonino/José Aníbal fugiu igualmente da primeira prisão no Brasil e continuou atuando livremente no tráfico de entorpecentes.

Foi fazendo isso que ele se tornou mundialmente conhecido por um episódio que acabaria por transformar a vida de uma ilha inteira: a inundação, com mais de 300 quilos de cocaína, da ilha de São Miguel, nos Açores, em 2001.

A cocaína que veio do mar

Naquela ocasião, Antonino transportava 700 quilos de cocaína da América do Sul para a Europa, quando, após dois meses de travessia no mar, um problema no seu barco o obrigou a fazer uma parada não prevista naquela ilha para reparos.

Como Antonino não poderia parar no porto com um veleiro entupido de drogas, ele tratou de esconder a cocaína em uma gruta que havia em uma ilhota próxima à São Miguel, planejando voltar para buscá-la quando o reparo no barco terminasse.

Mas, por um golpe do destino, naquela mesma noite, uma tempestade fez as ondas invadirem a tal gruta, e os sacos de cocaína foram arrastados para o mar, indo dar, dias depois, nas praias de São Miguel.

Especialmente na esquecida vila de Rabo de Peixe, uma comunidade de pobres pescadores, que recebeu aquele estranho nome porque, para os moradores locais, só sobravam as partes dos peixes que ninguém queria comprar.

A polícia só conseguiu recuperar pouco mais da metade da droga.

Desde a invasão daquela vila pela cocaína de Antonino trazida pelo mar, a vida nunca mais foi a mesma em Rabo Peixe.

Até hoje.

Nova temporada na Netflix

É nisso que se baseia a série Mar Branco, cuja segunda parte estreou na Netflix na última sexta-feira, após o sucesso da primeira temporada ter gerado a continuação da história. A série, no entanto, de real com o caso só tem dois aspectos: a origem da cocaína, trazida pelo traficante Antonino Quinci (que na ilha passou a ser chamado de “Italiano” e virou uma espécie de lenda entre os moradores), e a dependência química generalizada que aquela enxurrada de cocaína da mais alta qualidade – algo que até então não existia na ilha – causou na pequena comunidade, gerando inúmeros viciados, mortes por overdoses e uma intensa disputa de gangues pela venda da droga aos compradores, que passaram a chegar de toda a Europa, já que copos cheios de cocaína eram vendidos pelos moradores por míseros euros.

“Cresci ouvindo essa história e sempre achei que fosse lenda. Mas, quando decidi investigá-la, vi que a ‘cocaína do Italiano’ foi muito mais impactante na comunidade do que se imaginava”, diz o escritor açoriano Rúben Pacheco Correia, que nasceu e foi criado em Rabo de Peixe, e acaba de lançar um livro sobre o caso em Portugal, com grande sucesso. E agora espera fazer o mesmo no Brasil.

Entrevistou o traficante

Rúben também produziu um documentário para a TV portuguesa CMTV (“Bem mais autêntico do que a série da Netflix, que é apenas baseada naquele fato”, diz), que também foi exibido na semana passada, mostrando até que ponto a cocaína de Antonino afetou a vida em Rabo de Peixe.

Para isso, ele entrevistou muitas pessoas envolvidas, entre elas o próprio Antonino Quinci, então ainda preso no Brasil.

“Na gravação, o Antonino contou tudo sobre aquela viagem, que tinha sido contratado por um cartel colombiano de drogas, e o azar que deu quando o mar invadiu a gruta e levou para a ilha toda a cocaína”, conta o escritor, que para isso veio ao Brasil, em janeiro deste ano.

Logo depois, porém, Antonino ganhou o benefício da prisão domiciliar, rompeu a tornozeleira, fugiu e está foragido até hoje.

A viagem continua

“No dia em que rompeu a tornozeleira, ele me enviou uma mensagem pelo WhatsApp que dizia: ‘a viagem continua’, um claro sinal de que Antonino não irá parar nunca de traficar drogas para a Europa, e arruinar cidades, como fez em Rabo de Peixe”, diz Rúben.

“A justiça brasileira, que já tinha falhado ao não perceber que Antonino e José Aníbal eram a mesma pessoa, não deveria nunca ter sido tão benevolente com ele, permitindo cumprir o restante da pena fora da cadeia”, avalia o escritor. “Ele já tinha mostrado sua índole de sempre fugir da prisão, e foi o que ele fez, mais uma vez”.

Um caso parecido no Brasil

Embora impactante, a ponto de criar um problema social generalizado na Ilha de São Miguel, cujo número de dependentes químicos aumentou barbaramente desde aquele episódio de 2001, a inundação da pequena vila de Rabo de Peixe com uma brutal quantidade de cocaína vinda do mar não foi um fato inédito.

Quinze anos antes, em 1987, o Brasil havia passado pela mesma situação, quando um barco de traficantes despejou no mar do Rio de Janeiro cerca de 15.000 latas de maconha, porque estava em vias de ser abordado pela polícia. Na época, tal qual ocorreu naquela vila açoriana, a droga logo chegou às praias paulistas e cariocas, gerando uma espécie de explosão social, com banhistas tentando recuperar o maior número possível de latas nas praias antes que a polícia chegasse, e virou até tema de música, além de dar origem a um período de euforia generalizada, sobretudo no Rio de Janeiro, que ficou marcado pelo chamado “Verão da Lata”.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/10/22/traficante-que-inundou-ilha-com-cocaina-e-fugiu-do-brasil-segue-foragido.htm

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