Omar Sy e a Complexidade Histórica da Fonte dos Quatro Cantos do Mundo

Gente, vocês conhecem o Omar Sy, né? Ele é aquele ator maravilhoso de ‘Os Intocáveis’ e que também arrasou em franquias como ‘Jurassic World’ e ‘X-Men’. Mas, ultimamente, ele está bombando mesmo é na série ‘Lupin’ da Netflix. E olha só, tem uma cena no começo da série que traz à tona, mesmo que sem querer, a questão do racismo estrutural na França. Isso porque o Sy é filho de imigrantes africanos, e a cena mostra ele ainda menino passeando com seu pai em uma fonte parisiense super bonita.

História e Arte

A fonte em questão é a Fonte dos Quatro Cantos do Mundo, ou Fonte do Observatório, que fica perto dos Jardins de Luxemburgo. Ela foi construída entre 1867 e 1874 e é cheia de história. A escultura principal, feita por Jean-Baptiste Carpeaux, mostra quatro mulheres representando os continentes: Europa, Ásia, África e América. Mas tem um detalhe importante: a figura que representa a África tem uma corrente quebrada no tornozelo, simbolizando a liberdade. Só que, ironicamente, a América está pisando no pé dela.

Essa obra é uma referência ao movimento abolicionista, que na época ainda não era universal. Nos anos 1870, a escravidão de africanos ainda existia em lugares como o Império Turco-Otomano, Cuba e até no Brasil.

Por que Nascer Escravo?

Para criar o rosto da África na escultura, Carpeaux fez uma série de bustos chamada ‘Por que Nascer Escravo?’. Essa obra, que mostra uma mulher escravizada olhando desafiadoramente por cima do ombro, se tornou mais famosa do que a própria fonte. É uma peça icônica do século 19 que traz uma mensagem forte contra a escravidão.

Mas, claro, a obra é cheia de contradições. O próprio Carpeaux não registrou o nome da mulher que serviu de modelo para a escultura, e a fonte em si celebra o imperialismo francês. Além disso, ele fez várias versões do busto para vender, já que sabia que o tema teria muito público, especialmente nos Estados Unidos, que tinham acabado de abolir a escravidão.

Apropriação e Reinterpretação

Apesar de tudo, a obra de Carpeaux não foi ‘cancelada’. Pelo contrário, ela foi reapropriada pelo movimento de orgulho negro. Wendy Walters, uma curadora, comentou que vê representações da escultura em várias casas no Harlem, por exemplo.

Até celebridades se apropriaram da imagem. Janet Jackson tinha uma cópia em terracota do busto em sua casa em Malibu, e Beyoncé apareceu ao lado da obra em uma campanha publicitária da Adidas em 2020. Isso mostra como a representação pode se separar da obra original e ganhar novos significados.

Das oito versões conhecidas do busto feitas por Carpeaux, apenas uma está na África, na ilha de Reunião, que pertence à França. Isso é um testemunho dos resquícios do colonialismo.

A França aboliu a escravidão duas vezes, porque Napoleão a reinstituiu. A última abolição foi em 1848, 20 anos antes de Carpeaux criar sua série. O último país a abolir a escravidão oficialmente foi a Mauritânia, em 1981, que é a terra natal da mãe de Omar Sy e também uma ex-colônia francesa.

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