A Importância da Hospitalidade: Além da Primeira Impressão

Você já parou para pensar que a hospitalidade começa muito antes de você se sentar à mesa? Desde a facilidade de estacionar o carro até o sorriso de quem te recebe e a gentileza com que mostram sua mesa, tudo isso conta. E muito! 🏠✨

Primeiras Impressões

Esses pequenos detalhes influenciam diretamente na sua percepção dos momentos que você vai passar no restaurante. É responsabilidade dos estabelecimentos garantir que tudo corra bem antes mesmo de você começar a comer e beber.

Mas, e depois? Como você chega em casa, como a comida é digerida e como você se sente após o jantar também deveriam ser levados em conta pelos bares e restaurantes.

Memórias de um Jantar

A relação com o restaurante não termina quando você passa pela porta de saída. A memória de curto prazo e a digestão pós-refeição são fundamentais para as boas (ou más) lembranças da noite.

Há alguns anos, estive em Copenhague para jantar no que era considerado o melhor restaurante do mundo. Fiz a reserva com meses de antecedência, aluguei uma bicicleta e fui. O menu era uma homenagem ao mundo vegetal, cheio de experimentos fermentativos. Lembro de uma folha de shiso coberta por um veludo branco, como a casca de um brie, resultado da inoculação de Penicillium, o fungo usado na produção do queijo. Era quase poético e, sobretudo, saboroso.

Por estar de bicicleta, preferi não consumir álcool. A sommelier sugeriu uma harmonização com chás, sucos e kombuchas. Mais do que meu corpo estava acostumado. O resultado? Desde o momento que voltei ao hotel até mais ou menos seis horas da tarde do dia seguinte, não consegui sair do banheiro. Aquele jantar ressoou em mim por muito tempo, infelizmente, não da melhor forma.

Além do Metanol

Lembrei dessa história com os recentes casos de intoxicação por metanol em bares pelo país. É uma excelente oportunidade para refletir sobre a responsabilidade dos bares e restaurantes pelo consumo dos seus clientes.

Em casos que vão parar no hospital ou resultam em óbitos, não há dúvidas sobre o papel dos estabelecimentos. Um negócio não pode alegar ignorância sobre o que serve e deve garantir a segurança alimentar.

Isso acontece tanto no bar da esquina quanto em grandes restaurantes. Só neste ano, houve dezenas de casos. Em abril, uma mulher foi internada com gastroenterite após almoçar num restaurante de alto padrão em Belo Horizonte. Em setembro, em Mogi das Cruzes (SP), 30 pessoas foram intoxicadas num restaurante interditado.

Até a alta gastronomia tropeça. O lendário The Fat Duck, de Heston Blumenthal, já foi temporariamente fechado por suspeitas de intoxicação. Em 2013, no Noma, em Copenhague, 63 dos 78 clientes apresentaram sintomas de intoxicação alimentar.

De Quem é a Responsabilidade?

Nem os templos da gastronomia escapam. E é nesse ponto que vale se perguntar: de quem é a responsabilidade quando o prazer à mesa se transforma em risco à saúde?

Os restaurantes querem inovar em apresentações e sabores, mas muitas vezes derrapam no básico: os processos de controle que garantem a qualidade e a segurança do que servem.

O que consumo num restaurante é tanto responsabilidade minha quanto de quem me serve. Claro, sou eu quem decide a quantidade de kombucha que ingiro num jantar. Mas não seria papel dos profissionais alertar sobre possíveis efeitos colaterais?

Eu penso que sim. E por isso valorizo cada vez mais cozinheiros e bartenders que explicam como suas criações foram pensadas também em função do corpo: na digestibilidade, no uso mais controlado do álcool, na ausência daquela sensação de bola no estômago que atrapalha o sono.

Entre espumas e fermentações, entre a ânsia de surpreender e a tentação de economizar usando produtos de pior qualidade, há quem se esqueça de que o verdadeiro cuidado começa na segurança do que se serve.

E na sensação de sair do restaurante feliz, com a certeza de que não vou acabar a noite numa maca de hospital. A comida é um gesto de cuidado. Quando esse compromisso falha, não é apenas o estômago que dói, é a própria ideia de hospitalidade que adoece.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/rafael-tonon/2025/10/09/metanol-e-comida-que-adoece-a-conta-que-estabelecimentos-nao-querem-pagar.htm

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