Em março de 1984, pescadores de Bahía Blanca, na Argentina, encontraram uma tartaruga enroscada em suas redes. O animal estava vivo, mas muito debilitado.
Destino Inesperado
Ao invés de soltá-la no mar, os pescadores enviaram a tartaruga para um serviço de ajuda, que a despachou para um aquário em Mendoza, a mais de 1.000 km do litoral. Era o início de um longo drama para Jorge, um macho jovem da espécie Caretta caretta, originário do Brasil.
Trancada em um aquário de água doce, Jorge foi exibida aos visitantes e alimentada com ovo de galinha e carne de vaca. A situação era longe do ideal para uma tartaruga marinha.
Tormento de 38 Anos
O tormento de Jorge durou 38 anos. Um documento assinado por 60.000 pessoas pediu que ele fosse devolvido ao mar ou transferido para um centro especializado. A justiça argentina acatou o pedido.
Três anos atrás, um avião decolou de Mendoza com destino a Mar Del Plata, levando Jorge para um centro de reabilitação marinha. O objetivo era avaliar se ele poderia ser reintroduzido na natureza.
Readaptação
O primeiro passo foi fazer Jorge se readaptar à água salgada, aumentando gradualmente a salinidade do tanque. Depois, ensinaram-no a capturar sua própria comida.
Após três anos, os especialistas concluíram que Jorge estava pronto para voltar ao mar. Uma grande operação foi montada para soltá-lo no último dia 11 de abril.
Retorno ao Mar
Jorge foi solto no mar, a cerca de 20 km da costa argentina. Para alegria dos pesquisadores, ele nadou na direção certa: a do Brasil, seu local de origem.
“Quando vi que ele nadou para o Norte, tive certeza que Jorge sabia para onde deveria ir”, conta a pesquisadora Laura Prosdocimi, que acompanha o monitoramento de Jorge no mar.
Caso Único no Mundo
“Jorge é um caso único no mundo. Nunca uma tartaruga que passou tanto tempo em cativeiro voltou a viver normalmente no mar”, vibra Laura.
“A capacidade de Jorge de se readaptar à vida no mar é espantosa”, concorda a pesquisadora Mariela Dassis.
Rumo ao Rio de Janeiro
Jorge, que tem cerca de um metro de comprimento e pesa 100 quilos, está nadando na costa do Rio de Janeiro, mais ou menos na altura de Angra dos Reis.
“Ele está seguindo as correntes de águas mais quentes, como é típico das tartarugas. Até agora, seu comportamento é 100% normal”, comemora Laura.
Já Nadou 2.000 km
Em pouco mais de dois meses, Jorge já avançou mais de 2.000 km. Os pesquisadores acreditam que ele possa estar seguindo para a região da Praia do Forte, próxima a Salvador.
Driblando os Riscos
Jorge vem escapando de todos os riscos, como ataques de predadores e captura acidental em redes de pesca.
“Ele está indo muito bem, especialmente para quem ficou tanto tempo longe do mar”, avalia Laura.
Bateria do Transmissor
“Logo a bateria do transmissor irá acabar e não teremos mais como monitorar Jorge”, explica Laura.
“Se tudo der certo, nunca mais teremos notícias dele, porque isso será um sinal de que Jorge retomou sua vida normal no mar”, conclui a pesquisadora.
Um Caso Raríssimo
O caso de Jorge é raríssimo. Pouquíssimas vezes se tentou a reintrodução de um animal ao seu habitat natural depois de tanto tempo em cativeiro.
No caso de Jorge, o sucesso deveu-se à cautela e prudência durante todo o processo.
O Mau Exemplo Brasileiro
Um bom exemplo disso aconteceu no Brasil, nos anos 1980, quando a soltura precipitada de um golfinho em São Vicente acabou determinando a morte do animal.
Jorge, por outro lado, está ajudando a ciência a entender mais sobre o comportamento migratório das tartarugas macho.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/07/09/tartaruga-que-passou-40-anos-em-aquario-volta-pro-mar-e-nada-ate-o-brasil.htm