Gente, olha só essa história! O ativista ambiental Paul Watson, que estava preso na Groenlândia há cinco meses, foi finalmente libertado nesta terça-feira (17). A Dinamarca rejeitou o pedido de extradição do Japão, e agora ele está livre. Paul, que tem 74 anos e é americano-canadense, foi preso em julho depois que a Interpol aceitou um alerta do governo japonês feito em 2012. Na quarta-feira (18), ele deu uma entrevista à RFI.
RFI: Como você se sente após deixar a prisão e a respeito da decisão da Dinamarca de não aceitar o pedido de extradição do Japão?
Paul Watson: Estou muito aliviado de poder ver meus filhos quando voltar para a França, dentro de alguns dias.
RFI: A decisão da Dinamarca é uma vitória para você e sua luta?
PW: Acho que é uma vitória e um reconhecimento do fato de que o Japão está matando baleias ilegalmente e tentando fazer de mim um exemplo. O país não quer que ninguém interfira em suas operações ilegais, mas não conseguiu. Continuaremos a nos opor à sua caça ilegal de baleias.
Minha prisão faz parte de uma campanha para expor as operações baleeiras ilegais do Japão. Na prisão, provavelmente ajudei a chamar mais atenção para o que o Japão está fazendo do que se eu tivesse ido com meu navio em alto-mar lutar para impedir a ação dos baleeiros.
RFI: A Dinamarca não cedeu ao Japão. Como o seu caso acabou sendo resolvido?
A Dinamarca tem a obrigação de fazer o que é certo, dado o seu compromisso com os direitos humanos. As regras em matéria de extradição são claras. O Japão estava pressionando a Dinamarca e ameaçava cancelar projetos eólicos offshore multimilionários, caso eu não me entregasse. Isso mostra como esse caso é político.
RFI: Como você viveu os últimos cinco meses de detenção?
PW: Minhas condições de detenção não eram muito ruins. Os prisioneiros eram amigáveis. Os guardas foram educados. Passei a maior parte do tempo lendo ou respondendo cartas. Recebi cerca de 4.000 e aproximadamente 70% delas vieram da França. Não consegui responder todas, mas tentei responder a maior parte possível, especialmente das crianças.
RFI: Você está pensando em processar?
PW: Pretendemos ir a Lyon, na França [onde a Interpol está sediada], e responsabilizar a Interpol, que acredito ter abusado de sua autoridade para fins políticos. Meu caso está sendo investigado por um comitê europeu que examina os abusos da Interpol desde 2017. A Interpol precisa determinar se permite que os países usem suas agências para perseguir seus opositores políticos.
RFI: Michel Forst, relator especial da ONU sobre defensores ambientais, alerta para o aumento da repressão contra os ativistas. Você está preocupado com a situação?
PW: Ao longo dos anos, os ativistas ambientais têm sido cada vez mais perseguidos. As coisas são muito diferentes do que eram nas décadas de 1990, 1980 e 1970. As leis são muito mais repressivas, e protegem os lucros corporativos e os abusos de poder por parte dos governos. É muito mais difícil ser um ativista hoje do que era há dez, vinte ou trinta anos.
RFI: Isso o levará a mudar as ações ou vai aumentar sua determinação?
PW: Nossa abordagem é o que chamo de “não-violência agressiva”. Intervimos de forma não violenta contra atividades ilegais. Não conheço outra maneira de proceder. A única alternativa é que os governos assumam suas responsabilidades e respeitem o direito internacional.
Mas o problema atual é que há uma falta de motivação política e econômica para fazer cumprir a lei, o que força organizações não governamentais e indivíduos a fazerem o trabalho que os governos deveriam estar fazendo.
RFI: O que você vai fazer agora?
PW: Continuarei a trabalhar com a Sea Shepherd França para me opor à caça às baleias e outras atividades ilegais: caça de tartarugas, pesca ilegal. Continuaremos a fazer o que fazemos, o que faço há mais de 50 anos.
RFI: A Islândia voltou a conceder licenças para a caça às baleias até 2029. Há alguns meses, o Japão estendeu a caça de baleias-comuns. Você continua confiante em sua luta?
PW: Nos últimos 50 anos, encerramos as operações baleeiras na Austrália, África do Sul, Espanha, Peru e Chile. Continuamos nesse caminho e estou confiante de que vamos acabar com a caça à baleia na Islândia, Noruega e Japão. Mas também devemos continuar lembrando que todas essas atividades baleeiras são ilegais e contrárias ao direito internacional. Estamos comprometidos em defendê-lo.