Gente, olha que história inspiradora! A chef brasileira Alessandra Montagne, que mora na França há mais de 20 anos, às vezes até esquece algumas palavras em português. Mas essa carioca do Morro do Vidigal, criada na pequena Poté, em Minas Gerais, nunca esquece o famoso ‘uai’.
Criada pelos avós na roça, Alê – como todo mundo chama – não nasceu chef de sucesso. Sua primeira memória na cozinha foi um desastre. Ela tentou ajudar a avó a fazer arroz, mas acabou queimando tudo. Mesmo assim, a avó a incentivou a tentar de novo, e foi aí que começou sua jornada de resiliência.
Dores de Poté, prazeres de Paris
Hoje, aos 47 anos, Alessandra é uma chef celebrada com dois restaurantes na França. Mas nem sempre foi assim. Aos 16 anos, engravidou, casou-se obrigada e viveu quatro anos de sofrimento. Suas coxinhas de frango, que hoje fazem sucesso em Paris, foram o sustento que permitiu que ela fugisse para São Paulo com seu filho pequeno.
Com a ajuda da mãe e do ex-padrasto, ela foi para a França com a promessa de estudar e trabalhar. Os seis meses planejados viraram mais de 20 anos. Na França, ela se apaixonou pela culinária francesa e, incentivada pelo companheiro e amigos, formou-se cozinheira.
Para Alessandra, a cozinha sempre foi um refúgio. Foi através dos pratos que ela encontrou carinho e reconhecimento. ‘Pela primeira vez, me olhavam com orgulho. Comecei a existir’, conta.
Restaurar a alma
Depois de anos trabalhando sem parar, Alessandra abriu seu primeiro restaurante, o Tempero, em 2012. O sucesso foi quase instantâneo, com filas na porta em uma semana. Mas o espaço era pequeno demais, e ela queria mais. Em 2020, abriu o Nosso, em plena pandemia. Mesmo com dificuldades, ela seguiu em frente e conseguiu abrir o restaurante em 2021.
‘Foi um período que eu mais trabalhei. Hoje eu sei que posso ir muito longe, que para me derrubar, só a morte’, declara.
Um mestre leva ao Louvre
Alessandra chamou a atenção de Alain Ducasse, um ícone da gastronomia. Ele a incentivou a empreender e até a reabrir o Tempero em um local mais central. Recentemente, ela aceitou o convite de Ducasse para comandar um dos restaurantes do Museu do Louvre, que será reformado até o fim de 2024.
Para Alessandra, cozinhar é mais do que um trabalho; é uma forma de viver. ‘Preciso disso para destravar as coisas dentro de mim, para viver. É sobrevivência. Eu morro se eu parar de cozinhar’, declara emocionada.
Em paz com o Brasil há cerca de quatro anos, Alessandra pensa em voltar definitivamente no futuro, carregando no coração as duas cidadanias que chama de ‘lindas’. ‘A vida me tirou muito, mas me deu tanto, tanto, tanto que eu só tenho a agradecer.’