Com um copo de uísque em uma mão e um de água na outra, o chef peruano Rafael Osterling estava pronto para comemorar a maior ascensão do ano na lista do 50 Best Restaurants latino em 2024. Em apenas um ano, o restaurante que leva seu nome subiu 27 posições e chegou ao 19° lugar na lista. Que conquista, né? 🥂
Durante a premiação no jardim do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, Rafael tirou um tempinho para falar sobre política. Afinal, o mundo da gastronomia também está conectado a isso, né?
Quando perguntado se gosta desse tipo de premiação, ele brincou: ‘próxima pergunta’, mas destacou que é um reconhecimento não só para ele, mas para toda a equipe, fornecedores e clientes. ‘Estou sempre atento, mas esse tipo de reconhecimento nos deixa ainda mais antenados e alertas’, disse.
Para Rafael, subir tantas posições é resultado de diversão em receber, criar e conectar sua comida aos tempos atuais. Nos últimos anos, ele trouxe chefs de todo o mundo para seu restaurante e outros estabelecimentos (El Mercado em Lima e Oficial em Bogotá), sempre se considerando um ‘chef de seu tempo’.
‘Não estou nem no passado, nem avant-garde. Sou contemporâneo e me renovo. E 70% da minha equipe é composta por cozinheiros muito mais jovens que eu. Acho que estamos fazendo algo muito certo’, afirmou.
O sucesso do restaurante não só o mantém vivo, mas também prosperando em tempos que Rafael define como difíceis.
Fuga de Gênios
Com 25 anos de carreira, após temporadas em Londres e Paris, Rafael, o primeiro peruano a ser premiado por seu livro ‘Rafael, El Chef’ pelo Gourmand World Cookbook Award, viu a ascensão da gastronomia peruana no mundo. No entanto, ele não arrisca prever o futuro da cena gastronômica do país, que ainda é potente, mas enfrenta concorrência de peso de estabelecimentos na Colômbia e México.
‘A gastronomia segue a situação do país, o cenário político. Por isso, de 2004 a 2016, vimos a explosão da gastronomia peruana’, atribuiu Rafael aos anos de maior estabilidade política e econômica no país.
‘Hoje, não estamos tão bem. Muitos jovens cozinheiros, grandes cabeças da nossa gastronomia, estão indo para outros países e criando seus restaurantes por lá. Há 25 anos, quando fui, abrimos lugares ‘de imigrantes’, voltamos e nos tornamos meio professores. Os restaurantes que permaneceram aqui são resultado de trabalho muito sólido. Mas o que vai acontecer com a próxima geração?’
Para Rafael, o chef, o cenário é pessimista. Para Rafael, o restaurante, a renovação constante surpreende todos os dias: ‘Quando um cliente me pergunta o que eu recomendo, minha resposta será sempre ‘o que eu criei hoje, com a emoção de hoje”, brinca.
Ao final da curta entrevista, feita em inglês, ele se despediu com um ‘enchanté’ em francês e contou que acabou de receber o passaporte italiano (‘agora preciso aprender a língua’, gargalhou).
O que a instabilidade política peruana não favorece, o mundo abraça, e o Peru do ‘multi’ Rafael se espalha.