Posso falar? Cansei de realities gastronômicos. Assisti a inúmeras temporadas de ‘MasterChef’ (Band), era fã do ‘The Taste Brasil’ (GNT), e costumo acompanhar as constantes investidas da Globo com ‘Mestres do Sabor’ (nunca me pegou), ‘Cozinha de Alto Nível’ e ‘Infiltrado na Cozinha’, a nova série do Globoplay com Paola Carosella.
O Cansaço dos Realities
Mas cheguei ao meu limite. Sinto falta do que toca ao coração, dos conteúdos que descobrem receitas, ingredientes e pessoas com o respeito e a profundidade que elas merecem. Ou será que só a obediência — ‘sim, chef’ — e os gritos da hierarquia comovem a audiência?
É uma tendência que já não se limita ao formato de competição. Sucesso mundial, ‘The Bear’ (Disney+) trabalha as aflições da cozinha profissional numa ficção premiada, mas agoniante. Não consegui passar da terceira temporada de tanta ansiedade.
Já a recém-lançada ‘Na Ponta da Faca – Buscando Estrelas Michelin’ (Apple TV+) é uma série documental que, de tanto citar o guia criado pela marca de pneus e a busca incessante dos chefs por essas estrelas, suprime qualquer interesse de quem deu ‘play’ apenas porque gosta de comer.
Buscando Conforto e Calor
Quero deixar claro: não estou pedindo floreios ou mentiras. A questão é que, em meio a tantas produções audiovisuais sobre gastronomia, parece que faltam opções que promovam a sensação que todo mundo mais ama quando se senta à mesa: conforto e calorzinho no peito. Abaixo, indico duas séries para assistir já e outra para ficar de olho na estreia, além de lugares para ir e se sentir dentro dos episódios.
PARA AMAR
Somebody Feed Phil (Netflix) + Bar da Dona Onça
Philip Rosenthal é um produtor e roteirista americano que decidiu mudar levemente o rumo da carreira aos quase 60 anos. Desde 2018, é estrela da Netflix nesta série em que viaja o mundo conhecendo restaurantes, comidas de rua e as pessoas por trás de tudo isso. Com carisma e doçura, ele conquista os cozinheiros — e quem está sentado no sofá.
Entre voos que vão de Las Vegas a Tbilisi, capital da Geórgia, desembarcou por aqui para um episódio no Rio de Janeiro. Se eu pudesse produzir a versão de São Paulo, diria que a visita ao Bar da Dona Onça é obrigatória para bater um papo com a Janaína Torres, cria do centro da cidade e uma das melhores chefs da América Latina, além – é claro – de comer pratos com gosto de Brasil, como a galinhada (R$ 113) e o picadinho (R$ 101).
Vai lá: Avenida Ipiranga, 200, loja 27 e 29, centro.
PARA INSPIRAR
Onívoros (Apple TV+) + Corrutela
Cada episódio produzido pelo chef dinamarquês René Redzepi (Noma) e o jornalista norte-americano Matt Goulding leva o espectador a redescobrir um ingrediente. São insumos aparentemente simples, como o sal e a banana, que ganham camadas de complexidade e história, numa narrativa encantadora e estética que lembra documentários de natureza.
A relação é proposital para retomar um conceito básico: o que a gente come vem (ou deveria vir) da terra, do rio e do mar. Em São Paulo, um chef que sempre se preocupou com a relação socioambiental das operações gastronômicas é o César Costa. No Corrutela, ele aproveita os ingredientes ao máximo em pratos como o cogumelo eryngui com creme de castanha de caju (R$ 55) e a barbatana de peixe assada no missô (R$ 68).
Vai lá: Rua Medeiros de Albuquerque, 256, Vila Madalena.
PRA FICAR DE OLHO
Breaking Bread (CNN Originals) + Sororoca
Lançada no início do mês nos EUA (mas sem previsão para o Brasil), essa série documental é o oposto da apatia. Nos cortes de divulgação, Tony Shalhoub, ator americano de origem libanesa, aparece até ninando uma massa de pão, para cá e para lá. Com o objetivo de mostrar que o preparo de água, farinha e fermento é capaz de unir povos ao redor do globo, ele conheceu São Paulo na companhia de Fred Caffarena, chef do Make Hommus. Not War.
Um dos lugares visitados foi o Sororoca, um bar comandado por gente que entende de cozinha brasileira: Gustavo Rodrigues, Marcelo Corrêa Bastos e Thiago Castanho. No cardápio, tem um pão que simboliza a ideia de miscigenação cultural. É o bao, de origem chinesa, que leva açaí na massa e é recheado tempurá de peixe, picles de chuchu, coentro, pimenta e maionese (R$ 43).
Vai lá: Rua Simão Alvares, 785, Pinheiros.
BARES
Boas novidades na Vila Madalena, longe da muvuca
Muita gente relaciona a Vila Madalena a bares barulhentos, amontoados de gente, muita gritaria e outros excessos juvenis. Só que não é tudo assim no bairro. Quem sabe das coisas vai aos lugares certos, recantos mais tranquilos, distantes do furdunço.
Dois desses oásis estão com novidades que devem ser conferidas por quem ama coquetelaria. No Castelo Oculto, cujo nome já sugere aconchego, a nova carta de coquetéis é assinada por Gabi Fernandes.
Na grande casa à meia-luz, que imita as formas do arquiteto catalão Antoni Gaudí, há opções de drinques para todos os gostos e moods, de leves misturas tropicais a receitas potentes e encorpadas. Por fim, uma sessão de coquetéis inspirados em doces, só que sem dulçor excessivo.
O Quincho, um dos melhores restaurantes vegetarianos da cidade, é outro recanto vilamadalênico cheio de cor, sabor e charme. A carta do bar, chefiado por Andrea Ambrosano, o Deco, foi toda renovada, igualmente apostando na diversidade de perfis etílicos. Também há novidades na cozinha de nuances e texturas da chef e proprietária Mari Sciotti.
Castelo Oculto
Se você é dos coquetéis estilo pancadão, pode se apaixonar pelo terroso Lo Oscuro del Bosque (R$ 45), com saquê, vermute extra dry, fernet, cogumelo, alga kombu e óleo de coco. Outra opção na linha paulada é Luz Negra (R$ 55), mix austero de bourbon, licor de café, vinho quinado e bitter. Depois de um jantar no Oculto (o filé ao poivre é ótimo), parta para a sobremesa líquida. Churros (R$ 49) vem com tequila, jerez, brandy e doce de leite. Cheescake de Morango (R$ 49) tem gim com morango, aperitivo dry, licor, cítricos e espuma de morango. Vai lá: R. Fidalga, 120, Vila Madalena.
Quincho Cozinha & Coquetelaria
O encontro pode começar leve e frutado, com Da Terra, mix de uísque de centeio, rum, suco de limão e xarope de açaí e banana. Sal e Mar, o nome já diz, é salgadinho e harmoniza com vários pratos da casa. Tem vodca, tequila, consommé de tomate verde, manjericão, tomilho e aipo. Quase uma saladinha. Para finalizar, os fãs da potência devem pedir Praia e Charuto, alquimia de rum, amaro, vermute, licor de amêndoas e café com coco e chocolate. Um drinque denso, untuoso e complexo, para curtir devagarinho. Todos os autorais custam R$ 45. Vai lá: R. Mourato Coelho, 1447, Vila Madalena.
BELISQUETES
Batalha de donuts
Homer Simpson não é o único apaixonado pela rosquinha rosa decorada com granulados coloridos. Ele é uma representação da sociedade norte-americana, que mantém ativos 358 endereços da Krispy Kreme e 9.800 da Dunkin Donuts espalhados pelo país.
Em São Paulo, o alvoroço pelo doce renasceu com a inauguração da primeira unidade brasileira da Krispy Kreme, na avenida JK. Com drive-thru e esteira de donuts à vista dos clientes, a loja que abriu as portas em maio com fila de até 4 horas segue bombada.
Krispy Kreme
A rede internacional começou como uma pequena cozinha na Carolina do Norte, onde se produziam donuts para supermercados. O cheiro começou a atrair a vizinhança, que só sossegou quando o imóvel ganhou uma janelinha para vendas diretas. Entre tantos sabores, o melhor ainda é o tradicional glaceado de açúcar (R$ 64,90, a caixa com seis). Vai lá: Avenida Juscelino Kubitscheck, 1065, Vila Nova Conceição.
Donut Damari
Se você é do tipo que prefere apoiar pequenos empreendedores artesanais, esta é uma boa opção. Toda charmosa, a loja vende donuts para levar ou comer na calçada. De massa leve, a rosquinha coberta de açúcar sai pelo mesmo preço da de chocolate ao leite: R$ 15. Por mais R$ 2, você pode escolher uma dose extra de recheio – se aguentar ingerir mais açúcar. Vai lá: Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 96, Pinheiros.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/10/18/series-para-quem-ama-comer-e-onde-ir-antes-ou-depois.htm
