Quem tem cães e gatos já deve ter percebido: basta dar atenção a outro animal ou até a uma visita para que o pet mude de comportamento. Esse fenômeno, que muitos chamam de “ciúmes”, é mais comum do que parece e tem explicações veterinárias.
Ciúmes: Instinto de Sobrevivência
Segundo a veterinária Elisa Tibério, mestre pela USP e especialista em comportamento animal, o ciúmes é uma resposta natural a ameaças ao território ou às fontes de afeto e sobrevivência. “A gente fala ciúmes, mas na verdade é um instinto de sobrevivência do animal, que protege aquilo que é importante para ele — como alimento, espaço e atenção”, explica.
Identificando Ciúmes em Cães
Nos cães, os sinais de ciúmes são mais evidentes. O animal pode latir ou choramingar com frequência, ficar carente ou até agressivo com pessoas ou animais que recebam atenção do tutor. “Tem animal que começa a pular no colo, latir sem parar, ou simplesmente muda o comportamento. Um cão que não era tão carente, de repente fica extremamente grudado no tutor”, diz Elisa. Outro sinal é a marcação de território fora do padrão: “alguns cães fazem xixi no sofá ou em locais inusitados, como uma forma de marcar território por causa do desconforto emocional.”
A agressividade pode surgir quando o cão se sente ameaçado pela presença de outro animal, um bebê ou uma nova pessoa na casa. Nesses casos, é ideal buscar orientação para promover uma adaptação gradual.
Ciúmes em Gatos: Sinais Sutis
Nos gatos, o ciúmes é mais sutil, mas igualmente preocupante. Ao se sentirem ameaçados, muitos gatos se afastam ou ignoram o tutor. “Eles podem parar de comer, o que é um grande problema para os felinos. Também podem fazer xixi fora da caixinha ou se esconder por longos períodos.”
Segundo Elisa, é raro que os gatos expressem ciúmes com agressividade direta, mas mudanças no comportamento devem ser observadas. Assim como os cães, os gatos são territorialistas e sentem impacto direto com alterações no ambiente. “Uma pessoa nova na casa, a chegada de um bebê ou de outro animal pode causar essa alteração — e isso precisa ser tratado com cuidado.”
Introdução de Novos Animais
A chegada de outro animal pode desencadear ciúmes e comportamentos indesejados. Porém, há formas de minimizar o impacto. Elisa reforça que, especialmente no caso dos felinos, a apresentação deve ser lenta e gradual. “A aproximação pode levar até três meses. Primeiro, um animal sente o cheiro do outro sem contato visual. Depois, vem o cheiro com barreira, depois visual com barreira, e só por fim o contato de fato.”
Com os cães, a introdução tende a ser mais rápida, mas também exige cuidado. “Nem todos os cães aceitam outro animal com facilidade. E, quando se trata da chegada de um bebê, a complexidade é ainda maior”, alerta.
Melhorando a Convivência
Para minimizar o ciúmes entre pets ou entre o pet e outras pessoas, a chave está na previsibilidade, no respeito ao espaço de cada animal e na construção de interações positivas. Isso inclui manter a rotina de atenção individualizada com o pet, garantir recursos (como caminhas, comedouros e brinquedos) em quantidade suficiente para todos e fazer a adaptação de forma lenta.
Se os sinais de ciúmes se intensificarem ou houver risco de agressividade, a orientação de um profissional de comportamento animal ou de um veterinário será fundamental para garantir o bem-estar e a segurança de todos.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/08/03/ciumes-em-caes-e-gatos-como-identificar-e-lidar-com-o-comportamento.htm