Se você tem gatos em casa, já deve ter notado que eles bebem pouca água. Isso tem a ver com a origem deles.
“Os gatos vêm do Oriente Médio e do Norte da África, regiões desérticas ou com pouca água. Por isso, eles têm uma menor dependência de hidratação”, explica Waldir Serrano, biólogo, médico veterinário e professor do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Felinos selvagens do deserto obtinham a maior parte da hidratação de suas presas, como pequenos roedores, que possuem cerca de 70% de água corporal.
Por isso, os gatos que conhecemos hoje mantêm o instinto de não buscar água como prioridade, especialmente se a alimentação for baseada em rações úmidas.
Água é importante e precisa de atenção
Apesar desse “desapego”, é fundamental observar a hidratação do seu bichinho, especialmente no calor. Segundo Serrano, os gatos têm um percentual menor de sangue no organismo e precisam de água para manter a produção dele em equilíbrio. A água pode evitar ou reduzir complicações em casos de perda de sangue, seja por doença ou lesão.
Um estudo publicado no Journal of Feline Medicine and Surgery destacou que gatos que bebem pouca água são mais suscetíveis a doenças do trato urinário inferior, como a formação de cristais de estruvita, favorecendo problemas renais.
Outros prejuízos incluem:
Doença renal crônica: gatos desidratados têm maior probabilidade de desenvolver problemas renais, uma das principais causas de óbito em gatos idosos.
Problemas no trato urinário: condições como cistite (inflamação do trato urinário inferior) podem se agravar em gatos que não bebem água suficiente.
Mas, afinal, qual é a quantidade ideal para manter os felinos saudáveis?
“O consumo depende do peso e da dieta. Em média, 50 ml por quilo de peso por dia”, orienta Victor Carnaúba, coordenador do curso de Medicina Veterinária do UDF (Centro Universitário do Distrito Federal). Ou seja, um gato de 4 kg deve beber de 200 ml a 250 ml de água por dia se a alimentação for baseada em ração seca. “Se a dieta incluir sachês e outros alimentos pastosos, a necessidade de água será menor, pois eles já ajudam na hidratação”, explica Serrano.
Dicas para incentivar seu gato a beber água
Distribua tigelas de água pela casa. “Assim, os pets são fisgados pelo estímulo visual no ambiente e tendem a se hidratar mais”, ensina Carnaúba.
Utilize fontes para entreter e encorajar os bichanos. “Muitos gatos adoram água em movimento. É uma diversão para eles. Por isso, as fontes portáteis são ótimas”, fala Serrano.
Mantenha os recipientes de água sempre limpos e com água fresca. Lave com água e sabão neutro a cada troca e abasteça duas vezes ao dia.
Em dias quentes, coloque cubos de gelo nos locais de hidratação dos pets. Assim, a água sempre estará fresquinha.
Ofereça sachês e outras alternativas de alimentação úmida, como peixes. Tente acrescentar um pouco de água filtrada na hora de servir.
Outra estratégia é “saborizar” a água com caldo de peixe ou carne caseiros, sem adição de sódio ou temperos.
Aposte em tigelas de formatos diversos. “Os gatos preferem vasilhas mais largas, porque evitam encostar o bigode na água, o que pode atrapalhar a percepção sensorial”, ensina Serrano.
Sinais de que seu gato precisa se hidratar mais
Assim como em nós, humanos, a urina é um parâmetro de saúde para os gatos. “Observe se ele está urinando normalmente ou se a urina está mais concentrada. Não urinar ou urinar em excesso são um alerta e exigem atenção”, aponta Carnaúba.
Outros sintomas de pouca água no organismo do pet são letargia, gengivas secas e olhos fundos. Um bom teste é puxar a pele do bichinho com delicadeza; se demorar a voltar ao lugar, pode ser desidratação.
Na dúvida, sempre busque orientação profissional
Algumas mudanças simples no ambiente e na rotina impactam positivamente a hidratação dos gatos. Mas, se você notou que seu pet ainda consome pouca água ou ingere água em excesso, procure auxílio veterinário.
Segundo Serrano, a procura constante por água, acompanhada de perda de peso e alteração na urina, pode indicar uma condição importante como diabetes. Nesses casos, o tratamento e avaliação veterinária são essenciais para garantir o bem-estar do animal.