Durante minha visita ao Jura, tive a honra de conhecer o lendário vinhateiro aposentado Pierre Overnoy e seu sucessor, Emmanuel Houillon. Foi uma experiência incrível conversar com esses mestres do vinho.
Recepção Acolhedora
Embora seus vinhos sejam super disputados, Pierre e Manu são conhecidos por receber visitantes com muita gentileza. Eles adoram explicar suas ideias, propostas e, claro, seus vinhos. A casa deles em Pupillin é um ponto de peregrinação para enófilos do mundo todo.
O Legado de Overnoy
Na newsletter anterior, mencionei a importância de Jean-François Ganevat para o Jura. Com Overnoy, a coisa é ainda mais séria. Ele foi um estudioso dedicado das vinhas e da vinificação, adotando o manejo orgânico nos anos 60 e, em 1986, parou de usar sulfito nos vinhos. Isso fez dele um pioneiro no movimento dos vinhos naturais.
Além disso, Overnoy foi um dos primeiros a priorizar a produção de vinho ouillé, desafiando a tradição oxidativa do Jura. Essa mudança coincidiu com o aumento do interesse mundial pelos vinhos da região.
Transição do Domaine
Em 1989, Emmanuel Houillon, então com 14 anos, começou a ajudar na vinícola. Em 2001, quando Pierre se aposentou, Manu assumiu a maison. Houillon respeita profundamente os ensinamentos de Overnoy, mas também trouxe sua personalidade para os vinhos, introduzindo conceitos de biodinâmica e mantendo a filosofia de não usar sulfitos.
Desafios Climáticos
A conversa com Houillon destacou as mudanças climáticas. Ele mencionou que os vinhos estão mais carregados e com maior teor alcoólico. O Jura tem enfrentado geadas, granizo, ondas de calor e secas, resultando em colheitas catastróficas, especialmente em 2021. A boa notícia é que 2025 está indo bem.
A mosquinha Drosophila suzukii também é uma ameaça, causando grandes perdas nas colheitas. Houillon-Overnoy, que espera pacientemente a maturação perfeita, enfrenta dificuldades adicionais com essa praga.
Prova nas Uvas
Pierre Overnoy é meticuloso. Desde 1990, ele colhe um cacho de uvas em 2 de julho e armazena no formol. Isso mostra o aquecimento do Jura: as safras antigas têm poucos brotos, enquanto as recentes mostram uvas verdes, mas bem formadas. É bonito, mas assustador.
Uvas em Risco e Redescobertas
A uva poulsard, símbolo de Pupillin, está ameaçada pelas mudanças climáticas. Ela brota cedo e tem casca fina, ficando exposta a doenças e ataques de insetos. No entanto, os vinhateiros acreditam que conseguirão mantê-la.
Por outro lado, a casta enfariné, resistente a doenças e com muita acidez, pode emergir como uma alternativa. Embora não seja permitida nas AOCs do Jura, pode ser usada na categoria “vin de France”.
Domaine de la Pinte
O Domaine de la Pinte, com 35 hectares, adotou práticas orgânicas nos anos 90 e biodinâmicas nos anos 2010. Seus vinhos são excelentes, especialmente os savagnins e o melon-à-queue-rouge. Recentemente, uma distribuidora trouxe alguns desses vinhos para o Brasil.
Além dos vinhos, o Domaine de la Pinte investe em turismo, oferecendo passeios, degustações e até atividades como jogos de escape.
Saideira
Esse tava mágico
O Houillon-Overnoy chardonnay 2018 tem o aroma típico do Jura, com um leve toque oxidativo. Muita mineralidade, frutas como maçã e casca de laranja, acidez cortante e um toque salgado. Foi um vinho que me emocionou.
Esse tava bem bom
O Domaine de la Pinte trousseau 2023 é uma delícia. Frutas vermelhas, aroma de cave, encorpado e com acidez perfeita. Um belo vinho.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/vamos-de-vinho/2025/10/07/uma-manha-na-maison-houillon-overnoy.htm
