As mensagens que eu enviava freneticamente no WhatsApp para amigos, família e colegas de trabalho não combinavam com a calmaria da cidade de Ponte Alta, com seus 7.000 habitantes:
“Estou no interior do Tocantins e a partir de agora vou ficar sem internet por quatro dias. Falamos na volta.”
Esse era o texto-padrão. Ao ler minha mensagem, cada um vinha com seu assunto, mas todos arrematavam com a mesma pergunta: “É para o Jalapão que você vai?”. Não, não era.
O lugar era Serras Gerais, nome que, tanto eu quanto os contatos do WhatsApp, desconhecíamos. E, junto com a descoberta de que esta viciada em celular consegue viver muito bem quatro dias sem o aparelho, nascia também a convicção de que o Tocantins não é só o Jalapão.
Belezas Naturais
Serras Gerais tem algumas das cachoeiras mais bonitas do mundo. Cânions, grutas, riachos, mata e rochas avermelhadas fazem parte dos adornos constantes. E, apesar de esse palavreado evocar aventura, tudo isso é visitado sem perrengue, no maior conforto e em um conceito de viagem inédito no Brasil.
Fizemos um roteiro no estilo dos safaris na África, com direito a hospedagem em tendas muito bem equipadas, tais quais às dos lodges africanos — com cama, pia, vaso sanitário, chuveiro quente, ventilador, estantes, tomadas e até carregadores USB. Com a vantagem de estar por aqui mesmo.
Experiência de Glamping
A viagem é com a Korubo Safaris, que desde 2001 tem um safari camp no Jalapão. A estrutura de Serras Gerais, que veio só em 2023, foi atualizada com sucesso e ganhou um acampamento ainda mais confortável, ou glamping, o termo da vez que mistura camping com glamour.
Para o deslocamento entre uma atração natural e outra, a viagem é a bordo do “caminhônibus”, um caminhão adaptado com janelas panorâmicas. Não tem aquele aperto dos 4×4 nem tempo para enjoar com o sacolejo. Afinal, nas Serras Gerais, o tempo entre o acampamento e as atrações é de no máximo meia hora.
Rotina no Safári Brasileiro
Já era quase noite quando eu e os outros sete hóspedes chegamos ao acampamento. Pegamos aquele fim de tarde com o céu brilhando alaranjado — era impossível não ouvir exclamações de todos. Uma grande tenda de decoração rústico-chique é a sede do safari camp, onde todo mundo se encontra para o café da manhã, o almoço, o jantar e também nas tardes quentes do Cerrado.
Sob uma grande lona e entre muita madeira, estão sofás, redes e uma rede suspensa com vista panorâmica para ver o pôr do sol e as estrelas, que formam um céu completamente pontilhado. Mais estrelado que isso, são poucos os lugares no Brasil.
No roteiro de sete dias o esquema é o mesmo: um passeio pela manhã e um no fim do dia, com a diferença que aqui são para entrar em cachoeiras vazias e apreciar o pôr do sol a cada dia de cenários diferentes. Nesses horários, o sol forte do Cerrado também não atingiu o auge e as caminhadas ficam agradáveis.
Conexão com a Natureza
À tarde, quando o calor é forte, o lugar para estar é a piscina de borda infinita com vista para o verde que vai até onde a vista alcança. Só se sai da piscina para o almoço, já que as refeições são em estilo buffet sempre na sede e em uma mesa comprida compartilhada. É um menu sem invencionices, com comida caseira e saborosa, como arroz, feijão, frango, lasanha e um prato típico da região, como o arroz com pequi, além das frutas e doces.
O jantar termina por volta das 20h, horário que esta paulistana agitada que só dorme às 3h da manhã pensava ser impossível ir para a cama. Mas quando a rotina é ir de cachoeira em cachoeira e quando o sinal de internet é inexistente, é fácil pegar no sono.
Experiências Exclusivas
Ainda antes de chegar ao acampamento, a primeira parada foi em uma piscina natural famosa nos roteiros pelo Tocantins: a Lagoa do Japonês. Com águas azuis transparentes, cercadas por uma gruta e paredões rochosos, o lugar já anuncia que refrescar-se acompanhado de rochas milenares fará parte dos dias seguintes.
É cheio, mas é a partir dali nos despedimos da multidão, em passeios praticamente privativos. Não encontrei turistas em mais nenhuma outra cachoeira, o que deixa a Cachoeira da Cortina, por exemplo, e a do Urubu-Rei, algumas das mais bonitas da viagem, ainda mais espetaculares.
Outras que impressionam são as que estão na propriedade da Korubo — ou seja, são realmente só para os hóspedes, e visitadas em uma trilha em grupo.
Já o ponto mais conhecido das Serras Gerais, o Cânion Encantado, faz todo o sentido ser visado. São 5 km de trilha, ida e volta, que chegam a uma fenda de 70 metros de altura por onde caem quatro quedas d’água. Além das araras azuis sobrevoando, não havia mais algo nem ninguém para atrapalhar a vista.
Isso porque, apesar de ser lugar almejado, as agências que levam os grupos chegam por lá só no meio da manhã, vindo de mais longe do que o acampamento da Korubo.
Já o pôr do sol, tem dia que é admirado atravessando as rochas vermelhas dos Arcos do Sol: as pedras gigantescas com grandes furos que deixam passar os raios alaranjados.
Tem dia que é privativo no Pico dos Estreitos (uma montanha com vista 360 graus para o Cerrado) e tem dia que é da rede suspensa no camping mesmo.
Serviço
Assim como nas viagens de safári pela África, neste roteiro que fizemos tudo é incluído. A viagem de seis ou sete dias inclui duas noites em Palmas com café da manhã (uma antes e uma depois do safári), todos os passeios, transfers, as refeições, lanches, sucos naturais e os deslocamentos. Custa a partir de R$ 5.980.
O único perrengue? Religar o celular depois dos dias esquecendo que ele existe.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/09/19/descubra-o-paraiso-secreto-do-tocantins-que-pode-superar-ate-o-jalapao.htm
