Para muitos, seria o pior negócio do mundo, mas para o mergulhador inglês Dominic Robinson, de 53 anos, foi uma oportunidade imperdível. E ele não deixou passar.
Por 300 libras inglesas (cerca de R$ 2.300), ele comprou um navio da Primeira Guerra Mundial pela internet. Só que o navio está no fundo do mar. E ele sabia disso quando fechou o negócio.
“Ter o seu próprio naufrágio”
O navio que Robinson comprou é o SS Almond Branch, um cargueiro inglês afundado por um submarino alemão em novembro de 1917. Hoje, 108 anos depois, não passa de uma pilha de ferros enferrujados, sem valor comercial ou histórico.
Os restos do SS Almond Branch não valem nada nem como sucata, já que o custo para removê-lo do fundo do Canal da Mancha, onde está a 50 metros de profundidade, seria muito maior do que ele ganharia vendendo os pedaços.
Por que comprar um navio afundado?
Então, por que Dominic Robinson decidiu comprar aquele velho navio naufragado, que está de cabeça para baixo no fundo do canal que separa a Inglaterra da França?
“Porque eu sempre quis ser dono de um navio afundado. Ter o meu próprio naufrágio, entende?”, diz o inglês, que garante que o único problema foi contar isso à esposa após fechar o negócio. “Digamos que ela não ficou tão eufórica quanto eu”, diz ele, rindo.
Não tem nada de valioso
Como proprietário daquele navio afundado, Robinson não terá nenhum benefício, exceto poder explorar o que há dentro dele. Mas, como no interior do SS Almond Branch não há nada de valor, ele nada lucrará com isso.
Nem mesmo poderá impedir que outros mergulhadores continuem visitando os restos do navio, como determina a lei inglesa. A única vantagem é que ele poderá cobrar legalmente a devolução de qualquer objeto retirado do navio sem sua autorização. Mas isso é difícil de monitorar.
“Meu sonho é encontrar o sino do navio e levá-lo para casa”, diz Robinson, que recentemente fez seu primeiro mergulho no SS Almond Branch como dono e não encontrou o objeto. “A arma que ele tinha no convés também já sumiu”, lamenta. “Ficou só o pedestal.”
“Qual a vantagem disso?”
“Não vejo nenhuma vantagem em ter um naufrágio”, analisa o especialista em patrimônio subaquático, Michael Williams. “Quem compra um navio afundado fica automaticamente responsável por tudo o que aquele naufrágio possa causar, como vazamentos de poluentes e danos ao meio ambiente. Há muito mais desvantagens do que vantagens. Então, qual a vantagem disso?”, questiona o técnico.
“Um lance genial!”
Apesar de tudo isso, Robinson comemorou a compra dos escombros do SS Almond Branch com entusiasmo nas suas redes sociais, que bombaram nos comentários. “Muita gente que sempre sonhou em ter um barco logo fica desapontada com os custos para mantê-lo em ordem e seguro, a fim de evitar o naufrágio. Pois esse cara se poupou de tudo isso, comprando um barco que já está afundado! Um lance genial!”, ironizou um dos comentários.
Uma lei que vende naufrágios
O que permitiu que Robinson se tornasse “dono” de algo que ninguém jamais pensaria em ter foi uma curiosa lei inglesa, que permite que o governo “venda” embarcações naufragadas. Pela lei, elas passam a pertencer ao Estado a partir do instante em que afundam em águas inglesas.
Na Inglaterra, essa lei foi criada após a Segunda Guerra Mundial, como uma forma de arrecadar dinheiro para os cofres do governo. Na prática, porém, nunca foi usada em larga escala, embora alguns navios naufragados tenham sido vendidos a particulares. O próprio navio que Robinson comprou foi um deles.
Não passava de uma pilha de ferros
Na década de 1970, o SS Almond Branch foi comprado por uma família inglesa, que esperava encontrar itens valiosos a bordo. Mas logo concluiu que os restos do navio não passavam de uma pilha de ferro enferrujado, que não valia nada. E decidiu vendê-lo, anunciando no Marketplace do Facebook. Foi quando Dominic Robinson entrou em cena e fez seu “negócio da China”.
Titanic também foi vendido
A venda dos direitos de exploração de navios naufragados pode ser um bom negócio, desde que o navio em questão tenha algum valor comercial ou histórico. Como no caso do Titanic, cujos direitos legais de exploração pertencem a uma empresa americana, que tem lucrado com isso.
Outro bom negócio
Outro exemplo foi o do americano Gregg Bemis, que na década de 1980 comprou os direitos sobre os restos do transatlântico Lusitania, afundado na costa da Irlanda por um submarino alemão na Primeira Guerra Mundial. Bemis queria apenas preservar o navio para tentar desvendar um mistério histórico: o que causou a segunda explosão no Lusitania, logo após o impacto do torpedo alemão?
Para alguns historiadores, aquela segunda explosão poderia ter sido causada pelo carregamento secreto de munições que os Estados Unidos haviam doado à Inglaterra. E que, ainda por cima, teria sido propositalmente “entregue” aos alemães por Winston Churchill para forçar a entrada dos Estados Unidos na guerra.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/04/30/ingles-compra-um-navio-por-apenas-r-2300-so-que-ele-esta-no-fundo-do-mar.htm