Gente, vamos falar de Jericoacoara, esse destino que atrai turistas do Brasil e do mundo todo. Com mais de 600 mil visitantes anualmente, o local é famoso por suas praias belíssimas e um pôr do sol de tirar o fôlego. Mas, se você é do tipo que adora fazer passeios quando viaja, pode acabar se frustrando um pouco. Vou te contar o porquê.
Cheguei em Jeri em junho deste ano e fiquei encantada com a vila, cheia de ruas charmosas e restaurantes aconchegantes. Uma guia logo começou a falar sobre todos os passeios disponíveis, que são divididos entre o lado leste e oeste da vila.
Aí veio a surpresa: várias lagoas próximas à vila são consideradas ‘artificiais’. A guia explicou que essas belas piscinas, que vemos nas fotos paradisíacas, foram construídas para os turistas.
O Buraco Azul, por exemplo, fica em Cruz, a cerca de 35 km de Jericoacoara. Surgiu após uma escavação para retirada de areia e barro para a construção de uma rodovia. Com as fortes chuvas de 2019, a água acumulou na cratera e, pela cor azul-turquesa, começou a atrair visitantes de todo o Brasil.
Outro exemplo é o Lagun Beach Club, também em Cruz, que faz parte dos passeios ‘artificiais’. Lá, você encontra piscinas e ‘cachoeiras’ dentro de um clube.
No TripAdvisor, há elogios e críticas ao local. Um turista comentou: ‘Lugar distante, mal conservado. Piscina artificial disfarçada e desleixada. Não vale a pena. Não perca seu tempo’. Outro disse: ‘Fomos ao Buraco Azul (R$ 20) e ao Lagun Beach (R$ 35). Achei muito artificial, música alta. Não valeu a pena’.
‘Perdeu o encanto’
Os lugares são bonitos, mas há tantas lagoas naturais e praias lindas na região que esses locais artificiais parecem desnecessários. Com três dias em Jeri, preferi focar nas paisagens naturais, que são lindas por si só.
Conversando com outros turistas, descobri que muitos compartilham esse sentimento de frustração, especialmente quem faz a Rota das Emoções, que passa pelos Lençóis Maranhenses e Parnaíba, destinos com paisagens totalmente naturais.
Lorena Leocadio, 34 anos, ficou impactada pela Vila ser ‘superturística’. Ela ficou três dias no local em junho deste ano e disse: ‘É um lugar para pegar turistas, para tirar dinheiro deles a qualquer custo’.
Ela ouviu dos guias locais que o lado leste era o mais popular devido às lagoas artificiais. ‘Perdeu o encanto. Tinha vindo dos Lençóis Maranhenses, que é maravilhoso, natural, com lagoas lindas formadas pela chuva’, disse Lorena.
Lorena não conseguiu sentir a ‘vibe legal’ que muita gente fala sobre Jeri. ‘Não é um lugar feio, mas fiquei frustrada porque imaginei uma cidade mais interessante e tranquila’, comentou.
‘Sei que as pessoas precisam se sustentar e fazer dinheiro, mas acho que virou algo muito para turistas, principalmente os de fora, com preços altos’, acrescentou.
Ela destacou a trilha até a Pedra Furada, perto da Vila de Jericoacoara, como um dos passeios que gostou.
‘Não gosto de turismo de massa, mas atendeu às expectativas’
Vilmar Costa, 36, amigo de Lorena, tem uma visão diferente. Ele preferiu focar nas atrações naturais: ‘Não achei interessante visitar as lagoas artificiais de Jericoacoara. Não gosto de turismo de massa. Fomos somente na Lagoa de Jijoca antes de entrarmos na Vila’.
Vilmar sentiu falta de contato com os moradores locais. Em uma tarde, ele saiu para explorar uma região mais afastada do centrinho e conseguiu conversar com algumas pessoas que vivem na Vila.
‘Conversamos sobre como era a vida ali antes da chegada do turismo de massa. Essas pessoas acabam sendo expulsas pelos comércios maiores e lojas de conveniência’, contou.
‘Talvez não tenha ido na época certa. Mas atendeu às expectativas que queria. Descansar para continuar a Rota das Emoções em Fortaleza’, disse Vilmar.
Como saldo final, Vilmar ficou feliz por ter conhecido Jeri e as redondezas. ‘Achei muito bonito o caminho de Jijoca de Jericoacoara até a Vila. As dunas da região são mais coloridas e, dependendo da época do ano, dá para ver algumas lagoas naturais por ali’, comentou.
‘Voltaria para conhecer lagoas artificiais’
A enfermeira Daniella Mattos, 34 anos, passou sete dias na Vila, depois de também fazer a Rota das Emoções. Quando chegou, ficou sabendo da divisão dos passeios e das lagoas artificiais, que, segundo ela, ‘era uma coisa muito bonita, como a gente vê em fotos, mas artificial’.
Ela acredita que isso afetou sua decisão de priorizar outros passeios, com mais paisagens naturais. ‘Estava vindo do Maranhão onde tudo era natural, muito bonito. Passei por lugares sem nenhuma civilização e sabia que seria difícil superá-los’, disse.
Daniella adorou as atrações do lado oeste, que envolvem passeio pelas dunas e pelo mangue seco. Ela também gostou muito do centrinho da Vila e da vida noturna. Ela diz que voltaria para Jeri apenas para conhecer os outros lugares.
‘Teria tempo para me sentir mais ‘fresca’, sem ter acabado de visitar outro lugar paradisíaco. Não me senti frustrada: conheci lugares legais e com certeza voltaria’, concluiu Daniella.