Desde o início de julho, um grupo de jovens navegadores franceses está vivendo uma aventura e tanto na Amazônia.
A bordo de uma balsa feita com feixes amarrados de totora, uma espécie de junco típico dos Andes Bolivianos, eles estão navegando há três meses pelos rios amazônicos. A jornada começou no Lago Titicaca, na Bolívia, e a meta é chegar à cidade de Macapá, no Brasil, onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.
Próximos do Destino
Os franceses estão a menos de 100 quilômetros da capital do Amapá, onde planejam encerrar a expedição, que homenageia os 200 anos da independência da Bolívia. No entanto, há um grande desafio: a incerteza se a balsa aguentará até o fim.
Encharcando a Cada Dia
Por ser feita de totora, a rústica balsa – uma réplica das embarcações centenárias do Lago Titicaca – está encharcando dia após dia. A balsa já está perigosamente baixa em relação à superfície dos rios, o que faz com que ela seja inundada a cada onda. Nos grandes rios amazônicos, como o Amazonas, as ondas são sempre bem altas, complicando ainda mais a situação.
“Cada onda que vem passa por cima da balsa e inunda tudo. Mas estamos seguindo em frente, embora mais devagar do que gostaríamos, porque, como a totora está cada vez mais encharcada, o barco ficou bem mais lento e pesado. Além disso, estamos navegando só a remo, porque os ventos são contrários à direção que queremos ir, e a vela não funciona”, explica o francês Fabien Gallier, líder da expedição.
Mais Afundada do que à Mostra
“No começo, os feixes de totora do nosso barco ficavam 40 centímetros acima da água e 20 centímetros submersos. Agora, é o contrário: só 20 centímetros estão acima da superfície, e isso faz com que qualquer marola inunde o barco. Passamos o tempo todo molhados”, diz Fabien. Apesar do desconforto, ele e seus companheiros de jornada – os também franceses Erwan Rolland e Benjamin Vaysse – têm vibrado com a viagem.
“Mas, mesmo se desmanchar os feixes, a balsa não afunda, porque a totora sempre boia”, garante Fabien. Ele já havia sido alertado pelos construtores da balsa de que barcos desse tipo têm vida útil limitada.
Sabiam que Isso Ia Acontecer
Em geral, barcos feitos de totora não duram mais do que quatro meses nas águas do Titicaca, mas bem menos nos rios amazônicos, onde as condições são mais severas. “Nós já sabíamos que isso ia acontecer, e que os rios da Amazônia iriam encharcar e acelerar a decomposição da balsa. Mas faz parte da aventura. Navegamos com um barco orgânico e vivo. Todos os dias, brotam cogumelos entre os feixes de totora e usamos eles pra comer.
“Também temos muitas formigas e cupins a bordo. É um verdadeiro ecossistema flutuante”, diverte-se Fabien.
“Se a Balsa Aguentar…”
Neste momento, a balsa dos franceses – que tem 6 metros de comprimento por 2,5 de largura – está a cerca de 100 quilômetros de Macapá, depois de já ter navegado mais de 3.500 quilômetros, desde a Bolívia. A previsão é que o grupo chegue à capital do Amapá em dois ou três dias, “se a balsa aguentar”, dizem os franceses. Se isso acontecer, será a primeira vez que uma embarcação feita de junco navegará dos Andes até o Atlântico.
Outras Aventuras com Balsas
Uma das expedições mais famosas com balsas foi a do navegador norueguês Thor Heyerdahl, que em 1947 navegou do Peru à Polinésia Francesa com uma balsa feita de troncos e totoras. Outras expedições que reconstituíram travessias históricas também utilizaram balsas e jangadas, um tipo primitivo de embarcação, que na opinião de Fabien é “único, porque permite um vínculo estreito entre o homem e a natureza”.
Um dos mais polêmicos experimentos do gênero aconteceu em 1973, quando o antropólogo mexicano Santiago Genovés colocou cinco homens e seis mulheres dentro de uma balsa para cruzar o Oceano Atlântico, das Ilhas Canárias ao México, com o intuito de estudar as reações e relações humanas em situações de tensão e espaço limitado.
Para fomentar ainda mais tensões, o antropólogo estimulou as relações sexuais entre membros do grupo, o que fez com que seu experimento fosse chamado de “Balsa do Sexo”.
Mas, em pelo menos um aspecto, o experimento de Santiago Genovés foi considerado útil, porque serviu de base para os atuais Big Brothers.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/10/13/sera-que-chega-balsa-de-palha-de-franceses-no-rio-amazonas-pode-dissolver.htm
