Era uma vez um pinguim, fraco e coberto de óleo, que foi parar em uma praia da Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro. Lá, ele foi socorrido por um pescador que cuidou do animal, e por isso, passou a ser visitado por ele de tempos em tempos durante oito anos. 🐧❤️
Uma emocionante história real
O novo filme do diretor brasileiro David Schurmann, ‘Meu Amigo Pinguim’, que estreia hoje nos cinemas de todo o país, vai muito além de uma simples sessão da tarde. Graças a dois elementos, o filme transforma um enredo quase infantil em uma obra capaz de emocionar até o mais insensível dos adultos.
O primeiro elemento são as espetaculares e encantadoras imagens do pinguim protagonista, seja no mar, na praia, debaixo d’água ou andando desengonçado na vila onde seu salvador morava.
O segundo – e ainda mais marcante – é que se trata de uma história real.
Foi e voltou oito vezes
Em maio de 2011, um pinguim da espécie Magalhães, típico da Patagônia argentina, chegou doente à praia da isolada vila do Provetá, na Ilha Grande. Ele foi socorrido pelo pescador João Pereira de Souza, que ali vivia.
Não foi a primeira vez que um pinguim apareceu naquela praia, mas o estado semi-morto do animal mexeu com Seu João, então com 71 anos, que o levou para casa e passou a tratar da saúde do pinguim – logo apelidado de ‘Dindim’.
Durante semanas, o pescador cuidou do pinguim, até que, um dia, oito meses depois de ter chegado, Dindim partiu.
Seu João ficou dividido, entre triste e feliz. Colocou um porta-retrato com a foto do bichinho na sala de sua casa e deu o episódio por encerrado. Mas, que nada! Meses depois, lá estava Dindim, de novo, na praia de Provetá, chamando pelo amigo.
Foi recebido com muita festa por Seu João e certa perplexidade dos demais moradores da vila, onde passou mais um punhado de meses, dormindo no galinheiro da casa do pescador e tomando banhos de mar com o amigo, na praia.
Tempos depois, partiu novamente. Mas, de novo, voltou no ano seguinte. E no outro também. E assim por diante, por mais cinco vezes.
No total, Dindim retornou oito vezes para visitar Seu João, indo e voltando da Patagônia, em jornadas de cerca de 8 000 quilômetros.
Parecia enredo de filme. E foi isso mesmo que virou.
Filme americano, história brasileira
‘Nem parece uma história real’, reconhece o diretor do filme, David Schurmann, também membro da mais famosa família navegadora do Brasil, os Schurmann, que cresceu e viveu dentro de um barco, até virar cineasta – daí a sua familiaridade com o mar, e as belas imagens de pinguins na água, que ilustram o filme.
Oito anos atrás, durante o lançamento nos Estados Unidos do seu filme anterior, ‘Pequeno Segredo’, David foi convidado por produtores americanos para filmar a história do pescador brasileiro e seu pinguim, cujos direitos eles haviam comprado.
O cineasta aceitou na hora, já que se tratava de uma história brasileira. Mas impôs a condição de que fosse feito no Brasil, ainda que com atores estrangeiros, já que uma das imposições dos americanos era que o filme fosse falado em inglês.
Foi assim que o ator francês Jean Reno virou o humilde pescador da Ilha Grande, cujo maior amigo passou a ser um pinguim, que vinha sempre visitá-lo.
Um filme cativante
O resultado disso é um filme cativante, repleto de lindas e comoventes cenas, que deixa uma mensagem edificante, daquelas que faz todo mundo sair mais leve do cinema, ainda acreditando na humanidade – além de tornar todos os seus espectadores em apaixonados por pinguins em geral.
Leve as crianças. Elas também vão adorar a história e as imagens do pinguim Dindim, que, na vida real, foi interpretado por dez diferentes animais, todos dos aquários de Balneário Camboriú e Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde, por sinal, foram feitas boa parte das filmagens, bem como em Paraty.
‘Por incrível que pareça, a cena mais difícil de filmar não foi no mar, e sim a do pinguim caminhando na vila, porque tudo ali desviava a atenção do animal’, conta o diretor do filme.
‘Foi o contrário do que acontecia com o Dindim original, que seguia Seu João pelas ruas de Provetá, feito um cachorrinho. Tivemos que repeti-la dezenas de vezes’.
Dez pinguins no papel de Dindim
Também na história real, não havia nenhuma identificação da origem do pinguim Dindim.
Mas é praticamente certo que ele vinha todos os anos da distante Patagônia, até que, um dia, ali constituiu família e ficou para sempre.
Neste caso, Seu João teria sido trocado por uma jovem fêmea – algo bem mais pertinente e adequado -, o que tornaria a saga de Dindim uma história, também, de amor, com um final feliz.
Nada melhor para sair do cinema ainda mais satisfeito.