Gente, preciso compartilhar uma história que é muito especial para mim. Em 1997, quando eu ainda estava na faculdade de Direito na Mackenzie, tive a honra de conhecer um dos maiores nomes da nossa cultura: Sebastião Salgado.
O Contexto
Naquela época, eu fazia parte de um grupo chamado Paratodos, que buscava desafiar o conservadorismo da universidade com iniciativas acadêmicas e eventos que aproximassem os alunos da sociedade e dos movimentos sociais. Foi nesse espírito que conseguimos realizar o lançamento do livro “Terra”, de Sebastião Salgado, no auditório Rui Barbosa. A renda do livro era totalmente revertida para o Movimento dos Sem Terra (MST).
O Grande Dia
Eu tinha sido presidente da entidade estudantil no ano anterior, então não estava tão envolvido na produção do evento. Mas, como ainda era militante do grupo, me ofereci para ajudar. Fui escalado para pegar Sebastião Salgado no hotel, na região da Avenida Paulista, e levá-lo até o evento.
Quando parei meu golzinho preto na frente do hotel, lá estava ele, esperando. Ao me apresentar, Salgado, com uma simpatia incrível, perguntou se poderia levar dois amigos que colaboraram para o livro e também estavam na cidade. Claro que eu disse sim!
Surpresas no Caminho
Em cinco minutos, eu já estava emocionado por estar na presença do genial fotógrafo. Mas fiquei ainda mais surpreso quando um dos amigos que entrou no carro era ninguém menos que José Saramago, prêmio Nobel de literatura! E o terceiro amigo? Chico Buarque de Holanda, que também colaborou no livro.
Enquanto dirigia, rezando para que o carro não quebrasse, fiquei ouvindo Salgado e Saramago conversando sobre Chico. Depois de 20 minutos esperando, decidimos seguir, achando que Chico iria direto para o evento.
Memórias e Reflexões
No caminho, Salgado falou sobre como era inusitado voltar ao Mackenzie depois de tanto tempo. Ele estudou economia na FEA, que na época era no centro de São Paulo. Relembrou dos amigos e dos momentos que passou lá, especialmente durante a ditadura militar.
Com a leveza e tranquilidade de quem não se prende aos estereótipos do passado, Salgado destacou a beleza da mudança e o mérito dos estudantes que construíram a parceria com o MST.
O Evento
Chegando ao evento, a multidão era enorme. Não lembro exatamente como consegui tirar todos do carro e levá-los até a exposição das fotos icônicas, montada pelos estudantes de arquitetura, e depois para o palco.
No palco, Salgado contou a história que acabara de relembrar no carro e pediu licença para tirar uma foto da plateia. Com 5 mil estudantes gritando com as mãos para cima, ele sacou sua famosa Leica e fez a foto. Chico chegou logo depois.
Foi um momento inesquecível, uma verdadeira celebração da cultura e da mudança. Descanse em paz, mestre Sebastião Salgado.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/ale-youssef/2025/05/27/o-dia-em-que-dei-uma-carona-para-sebastiao-salgado.htm