Museu Olímpico de Atenas: Uma Viagem pela História dos Jogos

Os Jogos Olímpicos de 2004 são frequentemente lembrados como um quase fiasco. Não pelo esporte em si (especialmente para o Brasil, que voltou com cinco medalhas de ouro), mas pela organização.

A Olimpíada de Atenas consumiu quase 13,8 bilhões de euros, tornando-se a edição mais cara da história até então.

O gasto excessivo para construir elefantes brancos foi um escândalo, que voltou à tona em 2010, quando a Grécia se tornou o epicentro da crise econômica europeia. A Olimpíada foi apontada como uma das culpadas. O governo precisou adotar medidas de austeridade, sob pressão da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, que liberaram um pacote de ajuda equivalente a quase metade do PIB grego.

“Embora muitos fatores estivessem por trás da crise da dívida da Grécia, o aumento acentuado nos gastos com infraestrutura, necessário para as Olimpíadas de Atenas de 2004, atraiu atenção especial”, explicou a economista Evangelia Kasimati em um artigo acadêmico publicado no “Athens Journal of Sports”. “Se os Jogos não foram a única razão para a bagunça financeira do país, há quem os aponte como pelo menos uma ilustração daquilo que deu errado na Grécia.”

Enquanto Barcelona-1992 foi um caso de sucesso em transformar uma cidade, Atenas teria sido o oposto. Para muitos críticos, os Jogos de 2004 são um exemplo do que não fazer.

Mas nem tudo foi um fiasco. Muita coisa acabou abandonada, como acontece em praticamente toda edição, em maior ou menor intensidade.

Kasimati levantou que 18 instalações ganharam novos usos. O centro de tiro ficou para treinamento da polícia e o de iatismo virou uma marina. Algumas arenas foram convertidas em centros de convenções e casas de shows.

O centro de mídia é hoje o Golden Hall, um popular shopping em Maroussi, onde também ficam as principais instalações usadas nos Jogos. Dentro desse shopping, ao lado do Estádio Olímpico, funciona, desde 2021, um bonito museu dedicado à história das Olimpíadas.

Que lugar é esse?

Maroussi tem uma relação antiga com as Olimpíadas. É a terra-natal de Spiridon Louis, uma lenda do esporte grego e o primeiro campeão da maratona, competindo em casa, em 1896.

O museu, projetado pelos escritórios gregos Klab e Mulo, aposta no minimalismo e nos espaços amplos para reforçar um caráter de dramaticidade elegante, que muitas vezes associamos ao visual olímpico. Era para ter sido inaugurado em 2020, mas, assim como praticamente tudo, incluindo os Jogos de Tóquio, ficou para 2021.

Para a turma do marketing, até foi bom. O ano marcava uma data mais redondinha para celebrar os 125 anos da primeira Olimpíada da era moderna, assim tanto Atenas-1896 quanto Atenas-2004 seriam homenageadas com mais intensidade.

Inaugurar em 2021 ainda trouxe outra vantagem inesperada. A Grécia recebeu de volta uma taça comemorativa dada ao maratonista Louis, que estava em uma coleção privada na Alemanha.

A ideia do local não é falar apenas das duas edições sediadas na Grécia, mas de todas elas – e de antes. A herança cultural das Olimpíadas da Antiguidade também está presente.

A primeira parte é histórica. Narra as origens dos Jogos, desde as competições em Olímpia até o evento multibilionário que mobiliza o mundo. Há objetos como um exemplar preservado da coroa de louros que os vencedores recebiam nos Jogos da Antiguidade, um disco com o nome inscrito do vencedor do pentatlo na edição de 241 d.C. e itens de Olimpíadas mais recentes, como Seul-1988 e Atlanta-1996.

A segunda trata do movimento olímpico e dos valores propagados por ele ao longo do tempo. Há bandeiras, tochas e medalhas antigas, além de pôsteres, uniformes e acessórios esportivos, trajes antigos, esculturas. Tudo com gráficos e interatividade, como pede o manual do museu moderno.

Saudade x realidade

A atração talvez reforce o que os gregos demonstraram em uma pesquisa de opinião realizada em 2008. A maioria acreditava que, apesar dos gastos absurdos, ter sediado uma Olimpíada valeu a pena.

É verdade que oito de cada dez respondentes afirmaram que o governo fracassou em aproveitar a ocasião para trazer investimentos que de fato melhorassem a infraestrutura do país. Mas eles disseram que os Jogos deram aquela injeção gostosa de orgulho, moral e satisfação à nação.

Reportagens e até memes franceses mostraram recentemente que, em Paris, algo parecido aconteceu. O pouco caso, o cinismo e a antipatia aos Jogos deram lugar a um sentimento que uniu um país que agora, terminada a festa, precisa encarar sua paralisante ruptura política.

Tivemos algo assim no Rio, não? Pelo menos nas semanas e meses seguintes à primeira Olimpíada sul-americana, estávamos, de maneira geral, orgulhosos do evento que demos ao mundo.

As Olimpíadas têm esse fascínio. Por duas semanas, boxeadoras, skatistas, judocas, ginastas, iatistas, esgrimistas e fundistas têm mais espaço no noticiário e nas conversas do que políticos, juízes, celebridades, jogadores de futebol e quetais.

Ver todos os dias, o dia inteiro, pessoas de verdade fazendo coisas de cinema em esportes que a maioria de nós sabe muito pouco das regras e só acompanha quando é Olimpíada tem algo de mágico. Conhecer as histórias dessas pessoas é emocionante. De repente uma arrancada épica na canoagem é o incentivo que você precisava para montar aquela apresentação no trabalho.

Botecos pé-sujo pararam para ver ginástica artística. Isso enquanto a Torre Eiffel estava aí, todos os dias, na TV, em ângulos incríveis. Nem se você estivesse em Paris a veria por tanto tempo assim.

Agora, as luzes se apagaram, os atletas retornaram, assim como as notícias de tragédia, escândalo e taxa selic. Ainda bem que, já diria o saudoso, Los Angeles é logo ali.

Memórias afetivas globais e nostalgia generalizada precisam de lugares como esse museu. A chama olímpica é sobre a nobreza esportiva, mas o oxigênio que a sustenta vem, também, dessa força que nos atrai, aos bilhões, de quatro em quatro anos.

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