O que você faria se já tivesse dado cinco voltas ao redor do mundo? Pois o navegador baiano Aleixo Belov, de 82 anos, quer repetir a dose e dar mais uma volta ao mundo, a sua sexta, com um barco a vela. E dessa vez, ele quer fazer um caminho inédito para um velejador brasileiro: a Passagem Nordeste, que atravessa a Sibéria, no extremo norte da Rússia.
Desafio Inédito
Belov, que nasceu na Ucrânia, mas vive no Brasil desde criança, está determinado a enfrentar esse desafio. A Passagem Nordeste é uma rota que liga o Atlântico ao Pacífico pelo topo do mundo, uma travessia que geralmente é feita apenas por grandes navios capazes de romper os blocos de gelo do mar do Ártico.
“Será o meu maior desafio”, admite Belov, que já é considerado o maior navegador brasileiro de todos os tempos. Nenhum outro velejador do Brasil navegou tanto quanto ele.
Janela de Tempo Limitada
O gelo no mar da Sibéria só abre por, no máximo, seis semanas ao ano. “Se eu não estiver lá na hora certa, a viagem estará perdida”, explica Belov. Para essa travessia, ele contará com uma pequena equipe russa para ajudar na navegação e na burocracia, já que aquela parte da Sibéria é considerada uma “área militar” pela Rússia.
“É preciso ter licenças especiais para navegar por lá, uma região onde ninguém vai. Muito menos para passear, como é o meu caso”, diz o navegador. Ele se entusiasmou com a possibilidade de fazer essa travessia após ter cruzado a Passagem Noroeste, que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico, entre o Alasca e o norte do Canadá, dois anos atrás.
Preparação e Experiência
Belov aprendeu bastante sobre navegação no gelo durante sua última viagem. “Descobri que você usa mais o motor do que as velas, porque fica o tempo todo manobrando entre os blocos de gelo”, conta. Para a travessia da Sibéria, ele levará pessoas experientes, incluindo o capitão russo Sergei Shcherbakov, que tem vasta experiência em navegação polar.
“Convidei o Shcherbakov e ele aceitou na hora. Isso me animou ainda mais, porque sei que vou precisar de ajuda até com o idioma, para lidar com as autoridades russas”, reconhece Belov.
Desafios Adicionais
Além do frio, do gelo, do idioma e da burocracia, Belov ainda terá que lidar com sua idade avançada. “Minha saúde até que é boa. Mas meus joelhos estão podres e não tenho mais força para lidar sozinho com as velas do barco”, admite.
Partida em Abril
Belov pretende partir de Salvador no dia 12 de abril, com uma tripulação formada por brasileiros e russos. Ele precisa estar na cidade russa de Murmansk no final de julho para tentar obter as licenças necessárias para atravessar a Sibéria, cujo mar só fica navegável entre o final de agosto e setembro.
Ele prevê que a travessia da Sibéria leve cerca de três meses, se tudo der certo. “Ou, talvez, nem seja possível”, admite.
Histórico de Navegação
Das cinco voltas ao mundo que já deu, em três delas Belov estava sozinho no barco. Nenhum outro brasileiro jamais navegou tanto por puro prazer. Desta vez, ele terá a companhia de mais nove pessoas no barco: sete brasileiros e dois russos.
“Já estive em todos os mares do mundo, só falta a Sibéria”, diz o navegador, que tem cinco filhos, três netos, um bisneto e o título de o velejador brasileiro que mais milhas navegou até hoje. “Mas vou dar um jeito de resolver isso agora”, brinca.