Há dez dias, um antigo petroleiro chamado “Varada” atracou na costa da Malásia, após dois meses navegando desde a Venezuela. Esse navio chamou a atenção das autoridades portuárias malaias.
Origem Suspeita
O que intrigou não foi a carga (toneladas de petróleo venezuelano), mas sim a origem e o estado do navio. Ele parecia muito mais velho do que os cargueiros normalmente usados para transportar petróleo. Além disso, ostentava a bandeira das Ilhas Comores, conhecidas por vender nacionalidades para embarcações, prática chamada de “bandeira de conveniência”.
Investigação Jornalística
Jornalistas da Bloomberg, curiosos com as suspeitas levantadas pelas autoridades, decidiram investigar. Comparando fotos, descobriram que a identidade do navio era falsa, pois o verdadeiro Varada havia sido desmanchado em Bangladesh em 2017.
Ou seja, o petroleiro que estava prestes a descarregar milhares de toneladas de óleo venezuelano era um “navio fantasma”. Esses “navios zumbis” assumem a identidade de outros navios para navegar legalmente transportando mercadorias ilegais.
O petróleo venezuelano estava barrado pelo governo Trump, decisão apoiada por muitos países, incluindo a Malásia. Mas não pela China, destino do petróleo do falso Varada.
Descobertas dos Jornalistas
Os jornalistas também descobriram que o verdadeiro nome do navio era M Sophia, com 32 anos de uso – muito mais do que petroleiros costumam aguentar. Ele havia sido usado para transportar petróleo da Rússia até que as sanções americanas atingiram também os russos. Atualmente, o navio não possui proprietário, seguradora ou nacionalidade oficial, sendo um legítimo navio zumbi.
Além disso, o Varada/M Sophia era o quarto navio desse tipo a aparecer nas águas da Malásia nos últimos dois meses. Isso indicava uma nova tendência no comércio ilícito de petróleo venezuelano: utilizar navios com identidades falsas para driblar as autoridades portuárias malaias e continuar escoando petróleo para a China.
Frota Obscura
Na Malásia, os navios zumbis não atracam nos portos. Eles fazem o transbordo do óleo venezuelano para navios legalizados, dificultando ainda mais a identificação da origem do petróleo.
Esses navios fazem parte da chamada “frota obscura” – embarcações, quase sempre russas, que continuam escoando petróleo apesar das sanções impostas pela guerra com a Ucrânia.
A frota obscura sempre usou muitos artifícios para driblar as sanções internacionais. Mas utilizar navios que assumem a identidade de outros que não existem mais é algo novo e preocupante.
História de Identidades Falsas
No passado, há registros de embarcações que assumiram novas identidades, apenas alterando o nome do barco. Um episódio curioso aconteceu no Brasil nos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial. Um navio alemão, o Windhuk, chegou ao porto de Santos disfarçado com outro nome e bandeira, tentando enganar as autoridades.
Mas isso nem seria necessário, pois os tripulantes alemães foram recebidos de braços abertos. O Brasil ainda não havia aderido ao conflito, e muitos deles acabaram ficando no país para sempre.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/05/07/navios-zumbis-driblam-sancoes-de-trump-para-transportar-petroleo-ilegal.htm