Era uma noite de quinta-feira, mas parecia sábado de tanta gente que entrava e saía do “Lá na Rosi”, quiosque na praia do Zumbi, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro. Mesmo com um cardápio variado, a maioria estava lá pelo famoso cachorro-quente de feijoada.
Criação de Rosi Coelho
Essa delícia foi criada por Rosi Coelho, uma senhora de 65 anos, cheia de histórias. Depois do cachorro-quente de feijoada, ela é a grande estrela do lugar.
Rosi passa de mesa em mesa, conversa com os clientes e, quando não consegue ir até eles, são eles que fazem questão de ir até ela — para um abraço carinhoso, um beijo e um agradecimento sincero, como se fossem velhos amigos.
“Esse eu nunca vi na vida, mas o povo vem de longe pra me conhecer e experimentar minha comida. Sou muito grata por tudo o que está acontecendo, mas é sacanagem, fiquei famosa depois de velha e barriguda”, disse Rosi a Nossa, após dar um abraço carinhoso em um cliente.
Inovação na Gastronomia
Rosi, uma insulana — nome dado para quem vive na Ilha do Governador — criou o cachorro-quente de feijoada em 2022, quando estava em seu antigo quiosque, que era um terço do tamanho do atual. A ideia era fazer uma roda de samba com feijoada para a Consciência Negra, mas como não tinha espaço para comportar as pessoas nem um fogão grande, precisou ser criativa e adaptar a ideia.
“Sempre fiz feijoada para 300, 400 pessoas em dia de São Jorge, São Sebastião e Consciência Negra, mas como fui para um espaço muito menor, seria impossível. Um belo dia, quando estava voltando pra casa e pensando em uma solução, parei em uma barraca de cachorro-quente. A moça perguntou se eu queria salsicha ou linguiça. Nessa hora, me deu um estalo”, disse.
Rosi lembrou que, quando era criança, a mãe fazia uma mistura chamada “roupa velha”, que juntava carne seca e lombo desfiado refogados na cebola e no alho.
Essa foi a inspiração para começar o recheio do pão. Por cima, ela acrescentou linguiça cozida no próprio feijão e, finalizando, um punhado de couve para dar crocância junto com o bacon frito. Ao lado do cachorro-quente, uma rodela de laranja e um shot de feijão — para tomar separado ou jogar por cima, como o cliente preferir.
“A aceitação foi ótima. Assim que eu fiz, testei com meu irmão e coloquei no quiosque. Amaram a ideia logo de cara. Chamei um conhecido para provar, ele ficou encantado, fez um vídeo e bombou nas redes sociais. A publicação tem mais de 2 milhões de visualizações nas redes sociais e agora tenho fila na minha porta, tem gente até de fora do Brasil que vem provar.”
História na Gastronomia
Rosi sempre gostou de cozinhar, desde criança. Caçula de cinco irmãos, na hora da divisão das tarefas em casa, ficava na cozinha com sua mãe, que sempre cozinhou muito bem, mas não era cozinheira nem profissional da área.
Quando ficou adulta, ela trabalhou no ramo da navegação, bem distante da cozinha, mas sua sopa de siri era tradição nos aniversários. Após 10 anos trabalhando nessa área, Rosi mergulhou de cabeça no empreendedorismo.
Já teve uma cafeteria em Friburgo, região serrana do Rio, mas vendeu e foi se aventurar na Bahia, depois pelo mundo afora, durante seis meses.
No tempo que morou em Portugal, Rosi fez várias amizades e, quando já estava de volta no Rio de Janeiro, um casal de amigos a convidou para voltar ao país, pois eles tinham acabado de abrir um restaurante e precisavam de alguém para ensinar os funcionários a preparar coxinha.
Ela aceitou a proposta e, durante sete anos, ficou no restaurante da amiga, auxiliando nos principais processos, trabalhando como gerente e aprendendo a dinâmica do negócio.
Após essa experiência, Rosi chegou a abrir dois restaurantes de comida brasileira em Portugal, morou 16 anos no país, mas acabou tendo que retornar ao Brasil para cuidar da mãe, que ficou doente.
Nessas idas e vindas para o Rio, ela teve dois restaurantes grandes na região, até que rompeu a sociedade e conseguiu uma licença para abrir seu quiosque.
Foi então que ela colocou em prática não só a feijoada, mas também o picolé de siri — um petisco frito, modelado em formato de picolé, feito de massa de siri, temperos e camarão. Ela criou também o pão de alho cremoso com recheio de camarão e o cachorro-quente de polvo, ideia que trouxe de Portugal, mas com uma repaginada:
“Estou na gastronomia desde 1988. Quando monto uma casa, só faço comidas que eu gosto de comer. Pesquiso novas ideias, faço adaptações semanais no cardápio, crio novas receitas, faço uma nova roupagem para alguns pratos e ensino para os meus funcionários.”
Sem Planos de Expansão
O quiosque abre de quinta a domingo, sempre com as 50 cadeiras todas ocupadas e com direito a fila de espera na porta. No dia da entrevista, Rosi havia vendido 80 cachorros-quentes em plena quinta-feira. No final de semana, esse número passa de 120.
Além dos lanches, Rosi também vende caldos, peixes e faz questão de falar com cada cliente, checar se está tudo sendo entregue corretamente, se estão gostando.
“Aqui é um lugar para as pessoas comerem bem, provarem meu tempero e irem embora para ceder o lugar para o próximo. Não é lugar de bebedeira, para ficar tomando cerveja a noite inteira. Muitas pessoas são conhecidas, moram na região, mas tem uma galera que vem de longe. Tem turistas de outros estados e até de outros países, como Estados Unidos e Europa. Então essas pessoas precisam ter uma boa experiência aqui.”
A empreendedora conta que a ideia era trabalhar apenas quatro vezes na semana, mas com o sucesso de suas receitas, está tendo que trabalhar todos os dias para que nada falte nos dias em que a casa fica aberta.
Em agosto, sairá de férias coletivas por três semanas, assim como todos os funcionários. Ou seja, o “Lá na Rosi” ficará fechado.
Questionada sobre planos de expansão e novas criações, ela adianta:
“Tenho muito orgulho e prazer pelo meu trabalho, sou muito grata por tudo o que está acontecendo, mas não tenho planos de expansão, gosto de acompanhar a operação de perto. Não quero sair da Ilha, quero me aposentar daqui a dois anos, mas meu objetivo hoje é atender as pessoas com qualidade, no bairro que eu gosto. Não quero muita fofoca não, mas daqui a pouco estarei criando novas receitas.”
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/07/07/ela-bomba-com-lanche-de-feijoada-que-faz-fila-na-ilha-do-governador.htm