Paris: De Cidade Medieval a Capital Mundial da Moda

Paris é uma das capitais mundiais da moda, mas nem sempre foi assim. Até meados do século 19, a cidade ainda tinha características medievais e não atraía o comércio — muito menos as marcas de luxo com as quais estamos acostumados.

De olho na modernização, Napoleão 3°, sobrinho do famoso Bonaparte, tomou uma atitude drástica: a reconstrução.

Paris era feia, insalubre e nada atraente aos olhos. Há registros que dizem que o cheiro era insuportável na área de Marais, bairro que atualmente é cheio de marcas de luxo. Era necessário uma mudança completa para que a cidade perdesse os toques de antiguidade e passasse a atrair o comércio e o público para a capital.

É de Napoleão 3° a ideia revolucionária da modernização completa da capital francesa, o que impactaria na economia do país. Foi por conta disso que a cidade se encheu de parques, bulevares, regiões arborizadas e grandes avenidas. Essa nova Paris, bonita de se ver, atraiu o público e as marcas de moda de luxo.

Aos cuidados do prefeito

Torre Eiffel – vichie81/Getty Images/iStockphoto ()

Bonaparte 3° passou a responsabilidade da execução de suas ideias ao prefeito de Paris, Georges-Eugène Haussmann. Por 50 anos, a partir de 1863, a cidade se transformou em um canteiro de obras e passou por uma mudança drástica. A iniciativa ficou conhecida como “reforma de Haussmann”.

Foram destruídos 20 mil prédios para a construção de 40 mil novos — além dos famosos bulevares. Para a criação de grandes avenidas, bairros inteiros sumiram, 80 mil árvores foram plantadas, parques inspirados no Hyde Park, de Londres, foram desenhados.

Surgiu também um sistema de esgoto moderno, além da iluminação pública e o aumento da linha ferroviária.

Na Paris moderna, as construções precisavam seguir o mesmo padrão, criando uma harmonia visual na cidade. Elas foram feitas com rochas calcárias, naquele tom bege claro que vemos até hoje na cidade — as mesmas utilizadas na construção do Arco do Triunfo.

A chegada do mundo fashion

Desfile da Dior Homme, na Paris Fashion Week, em 2023 – Victor Boyko/Getty Images ()

Vale lembrar que a alta costura já existia na França. Durante seu reinado, o Rei Luís 14, responsável pela construção do Palácio de Versalhes, já tinha mapeado os melhores artesãos da Europa para trazê-los ao país. Ele queria profissionais mais capacitados da moda, da arte e da tapeçaria à disposição de sua corte, para garantir o melhor dos luxos.

Há séculos, a França já valorizava o “savoir-faire”, que é a maneira clássica e habilidosa do “fazer francês”, focado no que há de mais nobre. E isso não se aplica apenas na moda. Pode ser encontrado também, por exemplo, nas pâtisserie e no padrão estético do país.

Com a cidade nova e preparada, criou-se a necessidade de consumo. Todo mundo queria comprar. Os estilistas passaram a abrir novas casas na capital e a buscar inspirações nas artes. Surgiam os grandes vestidos e bordados ganhavam espaço pelas ruas.

Criou-se um “allure parisiense”, que na tradução livre, seria um fascínio de se viver em Paris, em seguir aquele estilo de vida. A capital francesa tornou-se a cidade onde todos queriam estar.

A moda veio para o centro da capital francesa junto com a modernidade. A Hermés, por exemplo, que começou sua história produzindo selas de cavalo, viu no novo visual de Paris uma oportunidade de vender para a sociedade burguesa consumista que vivia no local. Criava-se um novo estilo de vida graças às ideias revolucionárias de Napoleão 3°.

Novas lojas e joalherias passaram a ocupar as ruas opulentas que estavam sendo construídas. As mulheres passaram a se arrumar mais para andar nas ruas e visitar os novos estabelecimentos comerciais.

Triângulo de ouro

Para reforçar os luxos da cidade, Napoleão 3° inaugurou em 1875 um dos principais monumentos de seu governo: a Ópera Garnier, que a nobreza e burguesia usava como uma vitrine para a moda. Frequentar os espetáculos significava mais do que apreciar a arte. Era uma oportunidade de ver e ser visto.

A Ópera se tornou um ponto de referência para o luxo parisiense. Foi ao seu redor que no século 20 surgiu o Triângulo de Ouro, o encontro de três endereços focados no comércio de luxo: a Avenida Georges V, a Rua François e a Avenida Montaigne, que é uma travessa da famosa Avenida Champs Élysées.

É na Avenida Montaigne que você encontra, por exemplo, lojas da Dior, Chanel, JACQUEMUS, Maison Margiela, Céline, Yves Saint Laurent, entre outras. Além de hotéis de luxo como o Plaza Athénée.

* A jornalista viajou a convite da Natura

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