Cansado dos preços altos dos ovos de Páscoa? Enjoado das receitas de bacalhau? Então, que tal uma Páscoa diferente? 🌍
Uma Páscoa Diferente
Se você quer uma Páscoa raiz e excêntrica, com piqueniques em cemitérios e jogos intensos, vá para a Geórgia. Essa ex-república soviética, de maioria ortodoxa, celebra a Páscoa de forma única. Eles seguem o calendário juliano, diferente do gregoriano usado pelos católicos.
Em 2025, a Páscoa dos dois ramos cristãos cai no mesmo domingo, algo que acontece de vez em quando. A data é definida pelo equinócio de primavera do Hemisfério Norte. A primeira lua cheia do outono no Hemisfério Sul marca o domingo de Páscoa.
Tradições Ortodoxas
Os ortodoxos também levam em conta o Pessach, a celebração judaica da saída dos hebreus do Egito. A Páscoa ortodoxa deve ser celebrada sempre após o Pessach, mantendo a sequência bíblica da Paixão de Cristo.
Na prática, é só seguir a Lua. O Pessach começa na primeira lua cheia após o equinócio, então em alguns anos coincide com a Páscoa católica. O calendário juliano está 13 dias atrás do gregoriano. Quando a lua cheia chega tarde, as duas Páscoas coincidem.
Um Trago na Lápide
Na Geórgia, a Páscoa é celebrada na segunda-feira. Nesse dia, muitas famílias vão ao cemitério celebrar parentes mortos. Fazem piqueniques ao lado das sepulturas, comem paska (um pão doce pascal) e brincam com ovos.
Alguns fazem refeições completas com carnes grelhadas, doces e garrafas de chacha, um destilado local. Vinho também é comum, já que a Geórgia tem uma relação de 8 mil anos com a bebida. Às vezes, os piqueniques geram pequenos atritos familiares, segundo o site “Atlas Obscura”.
Acredita-se que o costume de celebrar a Páscoa no cemitério surgiu durante a União Soviética. Com as igrejas fechadas, as pessoas adaptaram as tradições para outros cenários, honrando os mortos no feriado.
O Papel das Mulheres
Para a antropóloga Ketevan Gurchiani, o período soviético transformou a religião na Geórgia. As mulheres ganharam importância nos rituais de luto e morte. Elas comandam os velórios e os rituais de nove dias, 40 dias e aniversários de morte.
Batalha ou Esporte?
A vila de Shukhuti, no oeste da Geórgia, é o berço do lelo burti, um esporte coletivo sem regras. O campo é a própria vila, cortada por dois córregos. Os times rivais se dividem entre as ruas de cima e as de baixo.
A partida começa quando o sacerdote local coloca a bola de 15 quilos no meio da rodovia. Os times disputam para carregá-la até o seu próprio rio. Quem já assistiu descreve como uma mistura de rúgbi com a corrida de touros de Pamplona.
A origem do lelo burti remonta a uma comemoração pela vitória do Império Russo contra o Império Otomano em 1854. É uma tradição que expressa heroísmo e vitalidade, segundo o padre local.
Rituais e Tradições
Os jogadores se reúnem na casa de um sapateiro, responsável pela confecção da bola. Comem, bebem e enchem a bola de areia, terra e vinho. Depois, levam a bola à igreja para ser abençoada pelo padre.
Durante o período soviético, a data do lelo burti foi transferida para o Primeiro de Maio, camuflando a tradição ortodoxa. O único ano sem a partida foi 1989, devido à Tragédia de 9 de Abril, quando o Exército Soviético esmagou uma manifestação em Tbilisi.
O lelo burti é uma homenagem aos mortos. Antes da partida, cada time decide para quem dedicará a bola, caso vença.
Este pequeno documentário do canal Rugby Pass mostra mais detalhes da tradição:
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/terra-a-vista/2025/04/19/piquenique-no-cemiterio-e-rugbi-sem-regras-a-pascoa-raiz-da-georgia.htm