Você sabia que Pessach não é a Páscoa judaica e não tem relação com a data cristã? A palavra “pessach” significa “passagem” em hebraico e a festa comemora o Êxodo, a libertação do povo hebreu após 400 anos de escravidão no Egito.
O que é Pessach?
Pessach começa no fim da tarde deste sábado (12) e boa parte da celebração gira em torno da mesa. Todos os anos, famílias se reúnem no sêder (jantar) na primeira e na segunda noite da Festa da Libertação, que dura oito dias. Na casa da chef Andrea Kaufmann, não é diferente. Judia orgulhosa, a chef do AK Deli relembra com carinho alguns dos ritos típicos da data.
“Sinto que o público não judaico passa mais batido pelo Pessach. Assim como todas as festas judaicas”, lamenta Andrea.
Rituais e Simbolismos
Para os judeus, Pessach é uma festa muito significativa. É costume que todos se sentem em cadeiras confortáveis, com uma cadeira vazia reservada ao profeta Elias, que voltaria à terra para anunciar um tempo de paz. Antes do jantar, o ritual de Pessach é dividido por etapas e guiado pela keará, um prato que recebe seis alimentos simbólicos.
As ervas amargas, molhadas em água com sal, lembram as lágrimas do povo judeu. O osso de perna de cordeiro queimado homenageia o animal que foi assado e os alimentou na noite da fuga do Egito. O ovo representa a impermanência da vida. A raiz forte traz o amargor para que não se esqueçam dos tempos duros da escravidão. E o charosset, mistura à base de maçã, canela e vinho do Porto, recorda a argamassa e os tijolos feitos pelos judeus quando trabalhavam para o faraó.
Após a keará, serve-se o jantar, para alegria de todos.
Ao Redor da Mesa
Na simbologia, a matzá representa a pressa com que os hebreus deixaram o Egito e não tiveram tempo de deixar o pão fermentar. Durante o sêder, essa espécie de bolacha feita com matzo vira entrada, com pastinhas como patê de ovos, de fígado, de salmão, cream cheese e labne. E também entra na composição de pratos principais.
“As comidas do sêder sempre foram feitas em família. Minha mãe cozinha muito bem. E a minha favorita sempre foi o caldo com bolinhas – meu apelido na família é ‘Maria Sopeira’, porque eu amo sopa”, conta Andrea.
Na tradição, essa sopa é a Kneidlach, em que bolinhas de matzá são mergulhadas no caldo de legumes. Essa é só uma das receitas familiares que Andrea levou à sua deli.
Receitas de Família
“O caldo dourado com kneidlach vem da minha mãe. A bola de matzá e o gefilte fish, da minha sogra. A pasta de ovo é receita minha, mas a de fígado é da minha avó alemã. Goulash da minha avó húngara. Varenikes, da avó de uma amiga, coalhada da tia de uma amiga”, enumera Andrea.
“A minha vida é uma coleção de receitas”, afirma.
Na mesa de Andrea, ainda surgem gefilte fish (bolinhos de peixe cozido, temperado e servido frio), tartare de salmão, pastrami e língua escabeche.
Matzá é Símbolo e Diversão
“O Pessach é uma festa muito alegre, para ser passada em família. Quando criança, eu adorava procurar a afikoman”, diz Andrea.
Para não deixar o pique das crianças cair, uma matzá cortada ao meio, envolvida em um guardanapo de pano e escondida em algum lugar da casa pelos adultos é procurada pelas crianças ao final do jantar. O prêmio é um presente, ou mesmo dinheiro.
“Eu amava essa parte! Hoje em dia, eu adoro esconder a afikoman para os meus filhos”, recorda Andrea. “Eu sou campeã de achados da afikoman da família!”
Festa de Contar e Cantar
Durante a noite, a narração da saída do Egito é recontada também em músicas. E surge mais uma memória para a chef de cozinha.
“De um lado da família, eu sou a neta mais nova. Do outro lado, eu sou a neta da turma mais velha. No Pessach da turma em que eu sou a mais nova, eu tinha que cantar uma música chamada Má Nishtaná. Cantada todo ano, essa é uma música que a criança mais nova da mesa pergunta ‘por que essa noite é diferente de todas as outras noites?'”, relembra Andrea.
“O Pessach tem muito isso: ritual, tradição, contar a história e, principalmente, a celebração da liberdade”, conclui Andrea.
Quer desejar um ótimo Pessach? Anote aí: se diz Chag Pessach Sameach!
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/04/12/de-gefilte-fish-a-matza-chef-conta-como-pessach-e-data-celebrada-a-mesa.htm