Inteligência Artificial na Gastronomia: Polêmica e Novas Tendências

O The New York Times quis entender como diferentes profissionais estão usando a inteligência artificial no dia a dia. Entre as 21 respostas selecionadas, o jornal destacou que chefs estão usando a IA para inventar receitas, médicos para ler exames e cientistas para desvendar descobertas.

Polêmica no Mundo dos Vinhos

Mas a confissão de Sam McNulty, proprietário de restaurantes em Cleveland, causou polêmica entre sommeliers e outros profissionais da área. McNulty revelou que usa o ChatGPT para escolher os vinhos de seus restaurantes. Ele enviou um portfólio para a IA avaliar, deu instruções de preços e regiões, e recebeu uma lista completa.

“Os resultados foram surpreendentemente bons e pouparam-me inúmeras horas de reuniões com representantes de vinhos, degustações e debates para mim e minha equipe”, disse ao jornal.

Isso gerou uma enxurrada de críticas nas redes sociais de profissionais do vinho, condenando a prática. “Isso é um insulto em muitos níveis”, escreveu o organizador de uma importante feira de vinhos naturais.

IA no Cotidiano dos Restaurantes

Não é novidade que ferramentas de inteligência artificial ajudam na rotina dos restaurantes: aperfeiçoam receitas, criam fichas técnicas, organizam o estoque e estabelecem procedimentos de serviço.

Mas, recentemente, profissionais da área têm denunciado exageros no uso dessas plataformas, até mesmo na hora de pedir um prato ao garçom.

Clientes Usando IA para Pedir

No X, uma garçonete chamada Madison revelou que é cada vez mais comum clientes usarem o ChatGPT para fazerem o pedido: basta enviar fotos do menu e algumas informações, e a IA escolhe o prato.

O post gerou muitos comentários, incluindo de clientes que já usaram a ferramenta para decidir o que comer. Fiona Lawson contou que foi a um bar de ostras e pediu indicação ao atendente, mas a experiência foi frustrante. Com a ajuda do ChatGPT, fez um novo pedido e, dessa vez, estava mais alinhado ao seu gosto.

Madison respondeu criticamente: “Quanta poluição você causou porque não sabe como articular corretamente o que está procurando para outro ser humano? Quanta água foi usada porque você tem habilidades sociais e função cerebral abaixo da média?”

Outro usuário, Nick Walker, disse que muitas vezes os atendentes querem vender produtos com maior margem de lucro. “Eu geralmente peço ajuda ao chat para escolher pelo melhor custo-benefício, pela novidade ou pela dificuldade de reproduzir a receita em casa”, afirmou.

Delegar Desejos e Gostos

Ainda que possa parecer útil para escolher um prato, as informações reunidas vêm de notas escritas por pessoas com gostos diferentes, vindas da vasta e pouco filtrada internet.

Não sei se, sem ter provado todas as ostras e baseando-se em informações de origens incertas, o ChatGPT pode realmente dar as melhores indicações ou se é apenas a ilusão de uma “vantagem informativa” que leva as pessoas a acreditar nisso.

Como se ter mais dados fosse, por definição, uma vantagem em algo que deveria ser tão pessoal quanto nossos gostos e vontades.

Da minha parte, que prefiro escolher o que vou comer pelo que me apetece no momento, tenho dúvidas se quero mesmo uma inteligência externa a ter tanto controle sobre algo que deveria ser íntimo.

A “datatização” do mundo já nos aprisiona: os passos que percorri, os movimentos do meu sono, a quantidade de proteínas que ingeri. Agora, um dos últimos redutos onde podíamos estar livres foi tomado pela necessidade de recorrer a dados para decidir o que quero comer.

Parece um absurdo delegar a uma inteligência externa as minhas escolhas e desejos, como se o meu próprio conhecimento sobre mim não fosse suficiente para saber o que quero comer ao almoço.

No fundo, comer sempre foi mais do que satisfazer uma necessidade: é um gesto de autonomia. Ao abrir mão dessa escolha, cedemos um pedaço dessa liberdade à lógica dos algoritmos.

A mesa é ainda um dos últimos lugares onde a vida pode ser saborosamente imprevisível. E se deixarmos que uma máquina decida o que vamos comer, corremos o risco de transformar até a fome num cálculo e a surpresa, num triste dado estatístico.

Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/rafael-tonon/2025/08/14/chatgpt-o-que-eu-quero-comer-hoje-ia-decide-pedidos-nos-restaurantes.htm

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