Gente, parece que o babado está resolvido! A reportagem de Anahy Martinho no site F5 contou que o jantar promovido pelo príncipe herdeiro do Reino Unido no Rio de Janeiro, no próximo dia 5 de novembro, finalmente superou o impasse sobre o cardápio.
Prêmio Earthshot e Sustentabilidade
Esse evento faz parte da entrega do Prêmio Earthshot, criado pelo príncipe William, que foca na sustentabilidade e tem iniciativas brasileiras entre os ganhadores. O prêmio é voltado para a defesa das florestas e acontece dias antes da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, em Belém.
Chef Saulo Jennings e a Comida da Floresta
Mesmo sendo no Rio, o jantar seria elaborado pelo chef Saulo Jennings, do Pará, que também comanda o restaurante do Museu do Amanhã, onde o evento acontece. A escolha parecia perfeita, já que a comida dele é inspirada nos povos da floresta, que a fundação do príncipe promete defender.
O chef Saulo Jennings – Reprodução Instagram (750×1)Impasse no Cardápio
O problema surgiu quando os organizadores do jantar exigiram que o menu fosse vegano. O chef, que é super orgulhoso de suas tradições, recusou. Ele duvidou que os 700 convidados fossem todos veganos e achou que a realeza não queria se arriscar com ingredientes “exóticos”.
O que será que eles temem? Pratos feitos com macacos capturados nas ruas de Ipanema, talvez?
Decisão Final
Agora, parece que está tudo resolvido, mas não exatamente. O cardápio será vegano, uma decisão imposta pelo príncipe. Isso passa a mensagem de que a comida dos povos da floresta não é boa para o ser humano e para o planeta que ele pretende defender.
Além disso, os 700 convidados vão aplaudir a benemerência imperial, mas nos termos da realeza, estigmatizando hábitos como comer pato ao tucupi ou peixes como filhote ou pirarucu.
Caro Willian, olha o que você perdeu: este é um dos pratos do Casa do Saulo – Divulgação (750×1)Proposta Rejeitada
Servir e comer pratos veganos é uma escolha, mas contrapor a comida amazônica ao veganismo é uma estupidez. Saulo Jennings propôs um cardápio com 80% de opções veganas, mas com produtos dos rios amazônicos, como um arroz de peixe. Não aceitaram.
Não é a primeira vez que vejo preconceito com nossa comida original. Para a COP30, uma delegação estrangeira me pediu um cardápio sem produtos locais, sem peixes dos nossos rios, no máximo queriam peito de frango. Não aceitei também – Saulo Jennings
Como negar? Linguiça de p, servida com molho de tucupi e mel de melíponas do Arapiuns levemente apimentado. Prato da Casa do Saulo – Reprodução Instagram (750×1)Consumo de Carnes e Sustentabilidade
O consumo massivo de carnes, especialmente bovina, está se tornando inviável. Uma alimentação mais vegetal parece uma tendência saudável. Opções pessoais pelo veganismo são dignas de respeito, mas isso não significa que o consumo de proteína animal esteja com os dias contados.
Os povos da floresta, quando não são dizimados, convivem com a natureza extraindo da floresta seu alimento, incluindo a caça e a pesca, de forma não predatória. Mesmo na legislação brasileira, que proíbe quase completamente a caça, os povos indígenas e ribeirinhos são exceção: eles podem caçar e pescar qualquer espécie animal para sua sobrevivência.
Preconceito com a Cultura Alimentar Amazônica
Escrevi há poucas semanas sobre a determinação da Organização dos Estados Ibero-americanos de proibir açaí, maniçoba e tucupi nos restaurantes da COP30 em Belém. Essa determinação foi revertida pelo governo brasileiro, mas já mostrava desconfiança com a cultura alimentar amazônica.
A cultura alimentar amazônica segue em risco, não só pela invasão de pastos, garimpos e madeireiras ilegais, mas também pelo preconceito.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/josimar-melo/2025/10/22/arrogancia-imperial-britanica-ignora-a-comida-dos-nossos-povos-da-floresta.htm