Os restaurantes de Nova York estão mudando seus cardápios e oferecendo porções menores para atender ao público que usa canetas emagrecedoras como Ozempic, Mounjaro e Wegovy. Essa mudança vem em resposta à queda significativa na clientela desde que essas medicações se tornaram populares nos EUA e em outras partes do mundo.
Menos Comida, Mais Saúde
Em abril, uma pesquisa da Bloomberg Intelligence revelou que mais de 50% dos usuários dessas canetas começaram a comer fora de casa com menos frequência desde o início do tratamento. Outro relatório da Morgan Stanley apontou que 63% das pessoas que tomam Ozempic pedem menos comida nos restaurantes, o que representa um prejuízo para esses estabelecimentos.
“Costumavam ser apenas as mulheres que comiam feito passarinho. Agora você tem um novo segmento de mercado inteiro que quer porções menores. Acho que os restaurantes que enxergam isso como uma oportunidade e alimentam este grupo vão ter uma vantagem competitiva”, comentou Dana Gunders, presidente da ReFED, ao The New York Times. Sua organização combate o desperdício de alimentos.
Adaptações no Cardápio
Um dos pioneiros nessa adaptação é o restaurante Clinton Hall, que lançou em abril sua “teeny-weeny mini meal”. Por apenas US$ 8 (R$ 43,40), os clientes podem saborear um mini hambúrguer, algumas batatinhas e uma mini bebida que pode ser cerveja, margarita ou vinho. A carne pesa apenas 56,7 g, enquanto a porção de batatinhas tem 42,5 g e a bebida cerca de 148 ml. É como um McLanche Feliz para adultos.
A ideia já faz sucesso: a reportagem do Times visitou unidades do restaurante e observou que cerca de um quarto da clientela consome apenas os petiscos.
Acolhimento em Tempos de Dieta
De 30% a 35% dos americanos têm interesse em usar Ozempic e similares, enquanto 8% a 10% já tomam, segundo uma pesquisa de outubro de 2024 da PricewaterhouseCoopers. Ou seja, é possível que, 10 meses depois, o uso seja ainda mais difundido.
Gary Wallach, sócio da rede de restaurantes Renwick Hospitality Group, explicou ao Times que é comum que a clientela sob a medicação procure algo que se encaixe na sua dieta no menu, assim como veganos e vegetarianos. “As pessoas se perguntam: tem algo para mim aqui?”, relatou.
Por isso, todos os restaurantes do grupo já oferecem mini porções ou cardápios adaptados. O Lulla, um italiano no bairro do Chelsea, tem uma caixa de happy hour que serve até quatro pessoas com nove itens de tamanho “petisco” por US$ 28 (R$ 151,70). Já o Alderman, na Times Square, permite que os clientes montem sua própria tábua de mini pratos como peito de pato defumado ou castanhas.
Mini Drinques
As drogas também afetaram o desejo ou a habilidade de digerir álcool dos frequentadores. Por isso, alguns bares já incluem mini drinques em sua carta. O Back Bar, dentro do Eventi Hotel, já serve martinis de metade do tamanho original há cerca de seis meses. Eles são parte do menu específico para quem usa as canetas.
O sucesso é evidente: são vendidos cerca de 35 mini martinis por semana, quase metade dos 75 a 80 de tamanho normal comercializados. O bar Fleur Room, do Moxy Hotel, também adotou o mini martini e os vende por US$ 9 (R$ 48,75).
Evitando a Vergonha na Hora de Pedir
Alguns donos de restaurantes não veem necessidade de mudanças, seja porque já serviam porções reduzidas ou porque acreditam que não é esse tipo de experiência que sua clientela busca. Mas existe um elemento de tabu que alguns chefs e proprietários já entendem. Por isso, há casas que servem cardápios “discretos” para a clientela de dieta.
Esses pratos não são promovidos diretamente como específicos para quem toma Ozempic ou quer perder peso, mas são sutilmente indicados para quem tem menos fome. É o caso do restaurante francês Otto’s, em Londres, que lançou em maio um “menu of one, small appetite” (menu para um de pouco apetite). Esta versão enxuta do menu degustação custa 240 libras (R$ 1.758) e oferece vieira-rei, foie gras selado, lagosta escocesa, frango supreme de Bresse e sorvete de coco.
“Eles não têm que explicar por que estão pedindo o que escolheram. Não têm que se sentir desconfortáveis quando estão aqui e este é o ideal, com certeza”, disse Otto Tepasse, dono do restaurante.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2025/08/15/restaurantes-de-ny-adaptam-menu-para-clientes-que-usam-canetas-como-ozempic.htm