Salta: O Destino Alternativo para Amantes de Vinho na Argentina

Se você acha que Mendoza é o destino natural para conhecer os vinhos da Argentina, está na hora de dar um zoom out e explorar outras partes do mapa do país hermano. A província de Salta, cujo ponto mais ao norte fica a menos de 50 quilômetros da fronteira com a Bolívia, é ‘o lugar’ para quem gosta de beber vinho, comer bem e variar as paisagens. 🍷🌄

Por (ainda) não ser um destino tão bombado quanto Mendoza, Salta oferece a vantagem de custar menos — e a gente não precisa disputar espaço com tantos turistas. Menos muvuca, mais vibes! ✨

Não sabia que se produz vinho em Salta? Muita gente pensa o mesmo e não é difícil entender por quê. A região é considerada um deserto de altitude. Fica a 1.400 quilômetros de Buenos Aires, o principal porto para escoamento da produção, e não é lá muito amigável para caminhões, que precisam transportar garrafas de vidro serpenteando serra abaixo — em alguns trechos, a estrada atinge 3.500 metros de altitude. 🚚

Pelo grau de dificuldade, as vinícolas menores acabam se limitando à distribuição local. As maiores até conseguem exportar, mas os rótulos que desembarcam em São Paulo custam caro e não vão para as gôndolas dos supermercados. Mais um motivo para ir até lá e conferir tudo in loco. 🍇

Ao contrário de Mendoza, onde a uva Malbec é protagonista, Salta é a terra da cepa branca Torrontés. Os locais se orgulham de contar que ela nasceu na Argentina, fruto do cruzamento espontâneo de videiras trazidas da Espanha. 🇦🇷

Apesar de ser conhecida pelos aromas florais intensos, a Torrontés cultivada naquelas altitudes é diferente. O sol inclemente, que brilha sem obstáculos durante nove meses por ano, faz com que as uvas produzam cascas mais grossas para se proteger, o que aumenta a acidez e o corpo. Na taça, o resultado são vinhos mais frescos e elegantes. 🍷✨

Por onde começar

A capital da província, que também se chama Salta, foi fundada em 1582 e tem seus encantos coloniais, verdade seja dita. Mas quem chega ao aeroporto internacional General Martín Miguel de Güemes, aluga um carro e parte direto para os arredores não se arrepende — as rotas nacionais 68 e 40 cortam o deserto argentino, descortinam os vinhedos mais altos do mundo e reservam as grandes surpresas da viagem. 🚗🌵

A paisagem é lunar, como um cenário de Star Wars. Até onde a vista alcança, só se veem montanhas de pedra ou argila em curiosas formações, que vão trocando de cor conforme o sol muda de posição. Só não se engane com o termo ‘rota’, porque estão longe de ser autoestradas. Há muito sobe e desce, trechos estreitos e vertiginosos e vários quilômetros sem calçamento. A aventura é boa, mas quem viaja em carro com suspensão baixa sofre um pouco com os sacolejos. 🚙💫

A cidadezinha de Cafayate, a 185 quilômetros do aeroporto, está a 1.700 metros de altitude, no coração dos Valles Calchaquíes, e merece alguns dias do roteiro. De ruas planas, bastante procurada por ciclistas e motociclistas, lembra as pequenas cidades do interior do Brasil, com sua praça e a indefectível igreja em destaque. Só que tudo por ali tem cheiro e gosto de vinho. 🍷🚴‍♂️

O centro, repleto de wine bars descolados, começa a ganhar vida às quartas-feiras, quando os estabelecimentos abrem as portas, e sem mantém agitado até domingo, quando os visitantes costumam ir embora. Há lugares como o bar Bad Brothers, onde o cliente pode produzir o próprio blend, e sorveterias que usam vinho como ingrediente. No Museu das Vinhas e do Vinho, a exposição permanente mostra como a cultura dos colonizadores espanhóis dependeu da mão de obra dos indígenas diaguitas, calchaquíes e omaguacas para erguer a produção vitivinícola. 🍦🍷

Quem precisa dar um tempo no álcool vai à Chinita, misto de cafeteria e livraria, que ocupa uma esquina com mesinhas na calçada. E não faltam hospedagens para todos os orçamentos, de hostels a pousadas de charme, como o Iraola Hotel Boutique. 🛏️📚

As vinícolas se espalham pelos arredores do centro de Cafayate — para chegar a elas, não se dirige por mais de 20 minutos. Quem visita a Bodega Amalaya pode degustar os rótulos no terraço do wine bar, debruçado sobre os vinhedos. Bem pertinho também estão as vinícolas El Esteco, com hotel e restaurante, Vasija Secreta, que se vangloria de ser a mais antiga da cidade, e Burbujas de Altura, que também produz vinhos tranquilos, apesar do nome. 🍇🏨

Rumo ao topo

A 114 quilômetros de Cafayate, viagem que leva 3 horas de carro serra acima, pela Ruta 40, chega-se à Bodega Colomé, a 2.440 metros de altitude. É parada obrigatória para conhecer e degustar a alma da região. 🍷🏔️

A mais antiga vinícola argentina em atividade ininterrupta teve seus primeiros vinhedos plantados em 1831, plantas que seguem em produção e podem ser vistas em visitas guiadas. Mas todo o lugar passou por uma senhora renovação a partir de 2001, quando foi comprado pelo casal de milionários suíços Donald e Ursula Hess. 💸

A antiga residência da fundadora foi transformada em hotel boutique, com nove suítes que revelam a vista de cactos, vinhedos e montanhas. O cardápio do restaurante é assinado pela argentina Patricia Courtois, autora do livro Viaje al Sabor (Editora Planeta), que pratica a chamada ‘cozinha quilômetro zero’: todos os ingredientes, das carnes aos temperos, do iogurte ao doce de leite, são produzidos na propriedade. 🍽️🌿

Colecionador de arte, Donald Hess, que faleceu ano passado, também construiu um museu para as obras do norte-americano James Turrell — uma das experiências nas instalações do artista é oferecida exclusivamente aos hóspedes do hotel. 🎨🏨

Para elaborar os vinhos Colomé, o enólogo francês Thibaut Delmotte usa uvas de três vinhedos, entre eles o Altura Máxima, a 3.100 metros de altitude, um dos mais altos do mundo. Parte do portfólio chega ao Brasil pela importadora Decanter, mas só no hotel é possível provar alguns rótulos. O branco Misterioso, elaborado com as uvas do vinhedo bicentenário, é um deles. No passado, era usual plantar várias cepas misturadas. 🍇🇫🇷

Aos poucos, Delmotte e sua equipe foram isolando e classificando as variedades desta pequena parcela, mas uma casta branca, que chegou a ser enviada a uma universidade norte-americana para estudo, nunca foi identificada e compõe o blend Misterioso. 🌿🔬

Povoados e ruínas pelo caminho

Quem viaja de carro pelas Rutas 40 e 68 passa por vilarejos que pedem algumas paradas. É o caso de Molinos, onde está a igreja de San Pedro Nolasco, construída em 1659, que abriga o túmulo de Nicolás Severo de Isasmendi y Echalar (1753-1837), último governador espanhol da província — o forro da igreja e as molduras das tapeçarias foram confeccionados com cactos. Diante da igreja, sua antiga residência foi transformada no hotel Hacienda de Molinos. ⛪🏨

Cachi, cidadezinha que vive da produção de páprica, é o lugar para comprar souvenirs e provar embutidos de carne de lhama. 🌶️🦙

Entre um povoado e outro, é comum topar com residências abandonadas, em ruínas, e formações rochosas instagramáveis. No caminho entre Salta e Cafayate, o descampado que serviu de cenário para uma das histórias do filme Relatos Selvagens, estrelado por Ricardo Darín em 2014, é parada obrigatória para fotos — até a carcaça do automóvel continua lá. 📸🚗

Já existe voo direto da Aerolíneas Argentinas, ligando o aeroporto de Guarulhos a Salta. A frequência é baixa — só um por semana, que sai aos sábados de São Paulo e volta no domingo. Mas sete dias é mesmo o tempo ideal para desbravar a região de carro. ✈️🚗

Convém reparar em certos pontos rebaixados da estrada, onde a vegetação rasteira do deserto dá lugar a pedras. Na verdade, são rios secos que só veem água entre dezembro e fevereiro — no verão, tornam-se caudalosos e, não raro, interditam as estradas. Melhor evitar a região nessa época. No restante do ano, em compensação, é puro sol, com noites frias que abrem o apetite para vinhos e as famosas empanadas saltenhas. 🌞🥟

*A repórter viajou a convite do Grupo Colomé e Importadora Decanter

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