Mesmo estando no fundo do mar desde que naufragou durante uma tempestade, em agosto do ano passado, matando seis pessoas – inclusive o seu proprietário, o magnata britânico Mike Lynch, que também perdeu a filha no acidente -, o superiate Bayesian segue fazendo vítimas.
Nova Tragédia
Na última sexta-feira, no início da operação que removerá o gigantesco barco, de 56 metros de comprimento, do fundo do mar da Sicília para perícias, um acidente matou o mergulhador holandês Robcarnelis Uiben, de 39 anos, que trabalhava na operação, tornando-o a oitava vítima – ainda que indireta – do inexplicável naufrágio do superveleiro do magnata, considerado pelo próprio fabricante como “inafundável”.
O acidente aconteceu quando o mergulhador operava uma espécie de maçarico submarino, que seria usado para cortar e remover o mastro do veleiro, a fim de aliviar o peso e facilitar o posterior resgate do barco.
Não se sabe ainda o motivo do acidente – muito menos por que o barco afundou, razão pela qual foi montada a operação para retirá-lo do fundo do mar, para investigações e análises.
O mergulhador foi retirado sem vida do mar, e o acidente decretou a interrupção da operação, já que agora a Polícia italiana terá uma nova morte para investigar.
Com isso, a operação de içamento do superveleiro – prevista para ser um espetáculo midiático, com cobertura de todas as emissoras de televisão da Itália – foi adiada por tempo indeterminado.
Negligência?
A nova tragédia só fez aumentar a má fama que o superiate do bilionário Mike Lynch, considerado uma espécie de Bill Gates da Inglaterra, ganhou ao afundar quase que instantaneamente, por causa de uma violenta corrente descendente de vento, às 4 horas da manhã do dia 19 de agosto do ano passado, quando estava ancorado a menos de 300 metros da costa, sem que ninguém saiba até hoje por que isso aconteceu – razão pela qual ele será içado do fundo do mar, para ser periciado e ajudar nas investigações.
Das 22 pessoas que estavam a bordo no instante do naufrágio, só 15 sobreviveram. Entre elas o comandante do barco, James Cutfield, o engenheiro Tim Eaton e o tripulante que estava de plantão na noite da tragédia, Matthew Griffith. Eles foram presos, suspeitos de terem cometido negligência.
Somatória de Fatores
Na noite do naufrágio do barco, o mau tempo estava previsto, mas ninguém esperava pelas intensas rajadas de ventos que atingiram em cheio o super veleiro, quando ele estava ancorado.
As rajadas, que passaram dos 100 km/h, fizeram o iate adernar de forma violenta e, em seguida, emborcar, enchendo rapidamente de água, a ponto de não permitir que todos os ocupantes do barco – que dormiam no instante do acidente – conseguissem sair das cabines a tempo. Entre elas o próprio Mike Lynch e sua filha Hannah, de 18 anos de idade.
Uma das suspeitas é que as próprias dimensões do mastro do veleiro – considerado o maior do mundo daquele tipo, com 72 metros de altura – tenham contribuído para o emborcamento do iate, pois ele teria agido como uma espécie de “vela”, ao ser atingido por aqueles ventos extraordinários.
Mas esta não seria a principal causa e sim um possível alagamento prévio na casa de máquinas do barco – não detectado pela tripulação -, que teria desestabilizado ainda mais o superveleiro, aliado ao não posicionamento adequado da quilha móvel do casco.
Ou, então, uma somatória de fatores, como geralmente acontecem nos acidentes tidos como “inexplicáveis”, como foi o caso do naufrágio do Bayesian, que desde então vem intrigando os especialistas.
“O Impossível Aconteceu”
“O impossível aconteceu com aquele barco”, diz o CEO do grupo de estaleiros de alto luxo que construiu o superveleiro, Giovanni Costantino.
Na ocasião, outros barcos que estavam ancorados no mesmo local nada sofreram durante o vendaval, o que deixa os investigadores ainda mais intrigados.
“Ele estava no lugar errado, na hora errada”, resumiu o chefe da Agência de Proteção Civil da Sicília, Salvo Cocina, tentando esclarecer o que ninguém até agora conseguiu explicar: por que aquele barco afundou?
É isso que o içamento do Bayesian do fundo do mar tentará elucidar.
Mas, agora, isso irá demorar ainda mais, porque a Polícia terá, primeiro, que investigar o que causou a morte do mergulhador, a fim de apurar eventuais responsabilidades.
A má-fama que o superiate do magnata inglês ganhou ao afundar só faz aumentar.
Mortes de Mergulhadores
Não foi a primeira vez que mergulhadores se tornam vítimas do naufrágio de um barco no qual sequer estavam.
A história registra inúmeros casos de mergulhadores que perderam a vida explorando embarcações afundadas, às vezes em proporções até maiores do que as vítimas do próprio naufrágio, tornando-os as verdadeiras vítimas da tragédia.
Um dos casos mais famosos são os restos do famoso transatlântico italiano Andrea Doria, que afundou na costa americana em 1956, após colidir com outro navio em pleno oceano – um acidente tão absurdo e improvável quanto o que aconteceria mais tarde com os mergulhadores que tentaram explorar os seus escombros.
Já morreram mais mergulhadores tentando explorar o interior do luxuoso navio do que as vítimas que ele produziu ao afundar.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/05/14/superiate-que-afundou-e-matou-bilionario-ingles-faz-nova-vitima.htm