Quase quatro meses atrás, no dia 11 de abril, uma tartaruga macho da espécie cabeçuda, chamada Jorge, foi devolvida ao mar após passar 38 anos em um aquário em Mendoza, Argentina. Para a alegria dos especialistas, Jorge rapidamente retomou os hábitos normais da sua espécie.
De Volta ao Mar
Jorge, que já tem cerca de 60 anos, passou os últimos 40 em cativeiro. Sua reintrodução bem-sucedida na natureza é um caso inédito. Ele migrou para a costa brasileira, local de origem, seguindo seu instinto natural.
Os monitores ficaram eufóricos ao ver Jorge nadando em direção ao Brasil, provando que ele não perdeu seus instintos após tanto tempo confinado.
Rumo ao Brasil
Da Argentina, Jorge cruzou o Uruguai e chegou ao Brasil. Ele está subindo a costa brasileira, possivelmente em direção à Bahia, onde nasceu. Esse ciclo migratório natural tem deixado os técnicos entusiasmados.
Nos últimos dias, Jorge entrou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, uma das áreas mais poluídas e movimentadas da costa brasileira.
Águas Poluídas
Desde 17 de julho, Jorge, que tem cerca de um metro de comprimento e 100 quilos, está na Baía de Guanabara. A água é poluída e há intensa movimentação de barcos. O equipamento rastreador preso ao casco de Jorge emite um sinal via satélite toda vez que ele sobe à superfície para respirar.
O mapeamento mostra um intenso ziguezague de Jorge nas águas do fundo da baía, onde ela é ainda mais poluída, em busca de alimento.
Apesar da poluição, as águas da Baía de Guanabara fazem parte dos roteiros migratórios de algumas espécies de tartarugas, incluindo a de Jorge.
O problema é que a Baía de Guanabara não é um ambiente saudável para seres marinhos. As tartarugas correm o risco de ingerir fragmentos que não são alimentos e de serem atingidas pela movimentação de embarcações.
Preferíamos que fosse embora
A pesquisadora Suzana Guimarães, do Projeto Aruanã, diz que preferiria que Jorge já tivesse ido embora para águas mais seguras. Ela e seus colegas argentinos estão monitorando Jorge, que ainda não foi visto por ninguém na baía, mas pode ser identificado pela antena do transmissor preso ao casco.
Os pescadores estão alertas quanto à presença de Jorge. Mas se ele ficar preso em alguma rede ou ingerir algo daninho, talvez ninguém possa fazer nada. A região que Jorge frequenta faz parte de uma área de proteção ambiental, onde a pesca é proibida.
Não se sabe até quando
É impossível saber quando Jorge irá embora da Baía de Guanabara, porque isso depende apenas da vontade dele, diz a pesquisadora argentina Laura Prosdocimi, do Museu Argentino de Ciências Naturais.
Mas se Jorge tem permanecido ali, é porque tem encontrado comida, o que é uma boa notícia para o sucesso do projeto, pois comprova que Jorge reaprendeu a capturar seu próprio alimento.
Antes de entrar na baía carioca, Jorge passou duas semanas nadando ao redor da ilha de Florianópolis, em Santa Catarina, antes de seguir viagem.
Caso único no mundo
A reintrodução de Jorge no mar após tantos anos em cativeiro é um caso único no mundo. Nunca uma tartaruga que passou tanto tempo em cativeiro voltou a viver livre no mar, sem sequelas.
Os deslocamentos de Jorge são monitorados diariamente, mas logo a bateria do transmissor irá terminar e perderão contato com ele.
Se tudo der certo, nunca mais teremos notícias de Jorge, porque isso será um sinal de que ele retomou sua vida normal no mar, diz a pesquisadora Laura Prosdocimi.
O mau exemplo brasileiro
O sucesso da reintrodução de Jorge no mar foi fruto de cautela e prudência durante o processo de readaptação. Um bom exemplo disso aconteceu no Brasil, nos anos 1980, quando a soltura precipitada de um golfinho que vivia em um aquário de São Vicente, no litoral de São Paulo, acabou determinando a morte do animal.
Espera-se que o mesmo não se repita no caso de Jorge.
Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/colunas/historias-do-mar/2025/07/28/tartaruga-solta-apos-40-anos-em-aquario-chega-a-baia-de-guanabara.htm